sábado, 20 de setembro de 2008

Fechada para balanço.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

A dona da carta

Cravou a ponta da caneta por tempo necessário para que a tinta azul atravessasse o papel. Sentia-se tão infeliz que já não podia pensar nas palavras exatas e com fingido ar de resolução, começou:

" De nenhum só instante me arrependo, até mesmo das tuas palavras grosseiras sinto falta...O que me mata é o silêncio do teu corpo e a minha morte frente ao nascimento de uma outra puta. Não há como continuar assim...

Bateram na porta - Querida, está tudo bem aí dentro? Saindo do transe em que se perdera entre a tinta molhada e a falta de modos, respondeu que sim, estava bem.

"...Permita-me lembrar as risadas frescas pela chuva daquele piquenique de domingo ou das tuas confidências sujas espalhas pelo meu corpo.
Ou talvez não devesse reacender tonterias quando, na verdade, estou eu a encharcar incessantemente esses papéis. Despeço-me de ti com o rosto marcado pela tua mão...Mão essa que me leva, nesse instante, a beijar o ar."

Sem ler o que havia escrito, a dona da carta a dobrou e a encostou delicadamente em sua caixinha de jóias vazia.
O calmante já fazia efeito e lhe foi inevitável sentir o cheiro das flores do campo, assim como os olhares desconfiados quando abriu a porta para a saleta.
Antes, que mais alguém lhe perguntasse como estava ela se adiantou e disse:
- Não sei o que fazem todos aqui, mas...Bom, resolvi abandonar meu marido...
Quando, ainda um tanto sonolenta, virou-se para pegar seu casaco no chapeleiro, franziu a testa:
- O que esse móvel de madeira faz no centro da minha sala? Ah, não agüento mais ele comprando porcarias.
Todos a olharam assustados e antes que pudessem dizer algo, ela bateu a porta.
Seria seu primeiro verão na praia.