sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Um adeus ao casaco vermelho

Não é mais o casaco vermelho que caminha pela cidade. Ele agora está no armário fingindo pegar poeira.
Em seu lugar seguem óculos escuros herdados do pai, aqueles mesmos óculos vindos da Europa a vinte e poucos anos, que a filha tão estranha consertou a perninha quebrada pelo tempo e mesmo assim, eles tão persistentes continuam a cair de seu rosto.
Eles caminham protegidos por uma nova sombrinha, não mais amarela – que se quebrou como tantas outras coisas na menina – mas, uma engraçadinha de bolinhas rosa.
Então, óculos e sombrinha agora agasalham a sardenta mocinha do sol.
Metáfora? Não.
Outro dia seguindo para casa, avistei novamente aquela mesma árvore que propus num outro escrito como “uma árvore grande e desnuda pela estação”. Ela continua grande mesmo parecendo miúda junto a uma releitura de Babel.
Então, agora a descrevo assim: Uma árvore grande que cansada de ser nua, costura cada folha à espera da próxima estação.
Flores? Não, é apenas verão.
Metáfora? Talvez – mas a menina continua a não gostar de sol e acompanha tudo em visão sépia.