quinta-feira, 4 de março de 2010

Dois cafés.Um puro.

Chovia como se fosse durar toda a eternidade. Sem pressa. O céu branco encobria há tanto tempo o azul e a forte claridade do alto não se refletia no mar. Ela mantinha a respiração tranqüila como as gotas que brilhavam na calçada. E apesar de assim fazê-lo, falava com animação sobre assuntos que me eram completamente estranhos. Ela sabia ser interessante. Eu não sabia mentir.
De tempos em tempos, ela confortava a grande xícara de borda grossa nas mãos e bebia o café olhando-me nos olhos. Fazia isso esperando de mim algo. Qualquer coisa. E a cada pausa, me via cercado pela chuva de fora e pelo fracasso que me cabia por dentro. Eu sorria, ajeitava meu cabelo e sorria.
Enquanto me perguntava porque diabos ela continuava voluntariamente a se enganar a meu respeito, um menino bateu na janela da cafeteria com seu carrinho sem rodas. Num susto contido, percebi que a sujeira do café secara no fundo da xícara e a chuva refreava aos poucos.
Pedi licença e segui para o caixa. Dois cafés.Um grande. Puro. E um pequeno com leite. Paguei. Na espera do troco, olhei para ela. Examinava com atenção as rosas que comprei no sinal.Curiosamente, não as beijou...O troco.
Arrastei as moedas até a borda do balcão, ainda a mirando. Andei até nossa mesa. E sem poder resistir perguntei o que estava fazendo.
Ela sorriu. Assoprava no centro das rosas para que desabrochassem mais rápido.