segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Companheira

O sono inebriava os pensamentos do moço. Era sublime como os sentimentos fazem coisas esquisitas com nosso estômago, pensava ele. Seus olhos carregados revelavam as fantasias da noite anterior, mas infelizmente, em alguma parte de seu corpo vivia uma minúscula frustração. Ele não sabia seu nome, mas a conhecia bem apesar disso: tinham a mesma idade, sexo opostos e brigas homéricas.
Ainda assim, riu-se de prazer pelas lembranças ainda tão frescas que faziam-o enxergar em suas mãos aquelas outras mãos. Acendido o abajour ao seu lado, beijou o leite do copo de vidro trazido por sua mãe.
Foi então que lembrou-se de sua insignificante companheira frustração e parou de sorrir, tinha desejo de voltar atrás com o pensamento, mas já não podia mais esquecê-la. Ele tinha tanta raiva da pobrezinha, e ela sendo então parte dele só morreria se o pudesse matar um pouquinho também...
Começou a sentir o cheiro dos ácaros no carpete, teve asco repentino do próprio corpo e do odor que descolava-se de sua pele e a essa altura o gosto do leite já azedara em sua boca.
As fantasias se esvaíram com o riso. Desacreditado e asqueroso apagou o abajour e cerrou punhos, olhos e pensamentos. Murmurou - Boa noite, frustração.
Ela sorriu...Em alguma parte de seu corpo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei devendo uma palavra: morango.
Não sei porque. Não pensei em nenhuma outra melhor.

sr. intenso