domingo, 30 de novembro de 2008

Moça Amarela

“Supera!” dizia a moça amarela a sua sombra.
“Supero, claro que supero, quando você quiser superar” respondeu a sombra.
A moça amarela desembestou a chorar “Não consigo, não imagina como gostaria” “Mentira!” gritou a sombra. “Como é?” Replicou a menina.
A sombra diminuiu o tom de voz “É mentira, você sabe que se quisesse, de verdade, superaria”.
A moça respirou pensativa “Então me ajude, dê-me ordens e eu as cumprirei!”.
“Mas eu sou apenas uma sombra” respondeu ela sorrindo.
“E eu sou apenas uma moça amarela pedindo ajuda a minha sombra.”
A sombra se ajeitou na parede e começou a falar rapidamente “Primeiro, coma três quilos de farinha para secar as últimas lágrimas. Queime os lábios com brasa quente para apagar toda a sensibilidade de sua memória. Quebre os espelhos de Narciso e respire embaixo d’água para evitar perfumes. Costure com linha grossa suas pálpebras para parar de ver sentido em tudo aquilo. Corte com tesoura de prata suas cordas vocais para esquecer o som das tolas palavras de amor que disse. Goteje duas partes de oceano nos ouvidos para afogar os sonhos. Bem, acho que isso será suficiente.”
A moça amarela chorava convulsionadamente “E o que faço com o coração?”.
Ela hesitou por meio segundo, mas disse “Remova-o!”.
“E o que serei eu?” sussurrou a moça amarela.
“Uma sombra”.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Ranger os dentes não basta, nem mesmo
Aliviar a dor com músicas tolas.
Isso é ilusão,
Mas, se queres a verdade,
Uma que não seja lá, muito fácil de ouvir, te digo:
Não se trata
De você! É
O pobre do homem que com medo de desperdiçar lágrimas...
...enxuga poesias.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Conto-de-tolo

Arremessa os sapatinhos 39 pela janela,
Despenca com eles a esperança de um "Felizes para sempre"
Aquela mesma janela da loura trança
Que jura só sentir dor quando
Nenhum a toma e sobe ao leito.
Pobre moça que finge dormir tranqüila,
Em busca de qualquer beijo, qualquer um
Que tenha se perdido pelo ar
E não se negue a despertar a moça acordada.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Malas desfeitas

Volto, volto sem saber por que voltei
Volto para repegar tudo que deixei
Recolho do chão a louça quebrada na parede
e limpo da taça a mancha do vinho quente.
Caminho em direção às margens do papel Canson
e afogo-me nas gotas homeopáticas deliberadas
pelo homem a minha frente.
A verdade é que não sei porque deixei meu pranto
queimar minhas palavras virtuais.
Elas, que passivas, não me abandonaram,
elas que tão sinceras não se apaixonaram.