segunda-feira, 27 de abril de 2009

Agradeço.

Agradeço dormir ouvindo Chico a falar tonterias no ouvido da falsa Beatriz.
Agradeço Chico que em plena madrugada derruba leite por debaixo do meu Edredon.
Agradeço novamente Chico por me permitir dançar com seu Guri na manhã de sábado.
Agradeço a um novo amigo, partidário de Chico, torcedor do Politheama e defensor de Geni.
Pois é... Agradeço palavras, boas palavras na contracapa de um livro.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Erro de calendário

Um dia fará sentido os risos sinceros, os olhos molhados e as palavras desperdiçadas no vento.
Um dia fará sentido o corte horrível de cabelo, os aparelhos no dente e a pomada para frieira.
Um dia fará sentido o primeiro beijo esquisito, o tapa dado e recebido.
Um dia fará sentido a dor no peito e a consciência que não faz dormir.
Um dia fará sentido ter medo da morte e vontade dela.
Um dia fará sentido.
Então não haverá manhã ou chuva ou vento.
Não haverá mãe ou amante ou Deus.
Não haverá dia.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O amante

"Quatro são as necessidades básicas: comida, bebida, sono e sexo. De nenhuma das três primeiras fui capaz de transformar em ofício.”

Cuspia ele o texto pronto para qualquer pregador de Jesus ou testemunha de Jeová que o abordava. Tinha corpo de homem e rosto de anjo como um Dorian Gray sem quadro e carregava algo de suspeito nos ombros.

Passava suas tardes lendo no sebo de um amigo de profissão – que herdara do pai o lugar decadente e a vergonha.

À noite, nosso homem era antagonista de mulheres casadas, jovens curiosas e viúvas pudicas. Era verdadeiro amante das mulheres e em cada ruga e dobra de pele de suas musas, escrevia sua história. E lia tantas outras nos corpos nus desprendidos de recato.

Conquistava a cada uma delas como Quixote e os moinhos de vento e também permitia ser conquistado pelos cabelos soltos no travesseiro da manhã, pelos choros borrados dos lençóis, pela pele febril entre suas mãos e pelos risos histéricos no meio de um silêncio desordenado.

Numa leitura de um dia qualquer, congelou seus olhos num cenário de sua memória e sozinho naquele sebo, riscou um fósforo.

Antes que fosse abandonado pelo tempo – pois apesar de parecer, não era Dorian-deixou descansar seu coração no calor de suas mulheres de papel.

Sem culpa de ter amado mais do que o mundo pode permitir.