sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Pensando em nada III

A cada gota de chuva que caia, eu pensava na quantidade de nuvens que deveriam ocupar o céu minutos antes. Estava tão cansada de pensar e a chuva não deu trela pra minha conversa, talvez tenha chovido mais, justamente para me provar do que era capaz.
Meu guarda-chuva amarelo propôs-me mais tempo nas ruas, acho que ele não queria voltar para o armário tão rápido, ele merecia uma tarde de chuva. Gostei da idéia e o segui tão sozinha e pensativa que meus pés finalmente me disseram pra parar.Gostei da idéia também. Parei de pensar.

Pensando em nada II

Hoje sorri duas vezes, num dia cinza e úmido de chuva, a primeira vez foi ao assistir um casal de velhinhos que ocupava a mesa ao lado da minha. Eles dividiram as funções do jantar. Ele pediu as pizzas individuais enquanto ela voltava com dois camafeus em um prato pequeno. E pensei: O homem pede o jantar, a mulher se obriga a escolher, apenas, a sobremesa, que apesar de doce é desprezível. Mas ela não achou ruim o fato de fazer uma escolha tola. Eu quero escolher o jantar e participar do pedido da sobremesa também. Quando olhei pra frente, sorri: Não era ela que estava sozinha a olhar a vida alheia.
A segunda vez foi na cafeteira, quando questionada da típica conversa de atendente: Açúcar ou adoçante? Respondi: Nada, Puro. Ela riu e comentou: Amarguinho, mesmo?
Eu sorri e respondi mentalmente aquela pergunta até o ultimo gole daquele café.

Pensando em nada I

Ontem, o dia pedia mais de mim do que o habitual. Tinha um vento que cortava meu rosto, mas que de forma estranha alinhava meus pensamentos. Meus olhos se mantinham suspensos a maior parte da distância. Respirei fundo algumas vezes... Tudo bem, várias vezes. Não me lembro de ter falado sozinha em alguns pensamentos intensos, mas não descarto o fato deles terem acontecido. Aquele vento parecia querer me afastar das únicas certezas que me fizeram aquecida toda uma vida ao mesmo tempo em que como já disse, pareciam limpar toda a poeira de certas posições que me depositei.
Não chorei, credito-me tão forte para bobagens como essa. Meu choro é outro nesses momentos, um que esvazia os pulmões por alguns segundos e força a mandíbula.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Meleca

“Amor é como cuspe,
Quando da boca alheia
Torna-se meleca
Quando da nossa
Não é tão ruim assim...”

Meu divã- pensamentos perdidos parte I

Era o divã de minhas dúvidas. Espalhava-me nele todo, buscando em seu cheiro, em seu toque as respostas que mesmo ela não tinha e me garantia sem vergonha. Sorria pretensioso, fingindo ser alguém legal, quem sabe ela se permitiria acreditar... Mas no final de tudo, não era surpresa para mim, ela se daria conta de que eu na verdade não era nada além de um cliente em seu sanatório residencial.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Sem querer ser sereia.

“Ao meu pai,
Um eterno afogado nos encantos de mamãe.”


Figura enigmática,
Cintura fina,
Quadril largo,
Intencionalmente acomodado
Em qualquer lugar bem planejado.

Entoa de forma inesquecível
Uma voz que fascina
Cala a paz,
Cega a vida.

Inalcançável e tão sozinha,
Se faz mulher
E tão menina.

E por querer alguém pra companhia,
Naufraga a todos
Sem melodia.

Triste fim de uma sereia
Amada por marinheiros
Que dela prisioneiros
Nunca se tornarão amantes.

E se me pedires conselho
Não te amarres nas
Ilusões dos teus consolos.
Direis: Afogue-se!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007
























18 anos, nada sei, nada vivi,

chorei algumas vezes,

admito, sorri também! Amei poucos, gostei de alguns, não acho que muitos sofreram por minha causa, nem acredito ter salvo alguém, entrei diversas vezes no meu mundo das idéias, é um bom lugar para se criar personagens e vidas maravilhosas, mas voltar pra realidade é severamente bom.

(nem sempre)

Conheci algumas pessoas boas. Heróis... dá pra contar nos dedos de apenas uma mão. Vesti algumas fantasias que me fizeram bem e me fizeram mal. Dancei diversas vezes sozinha. Não pintei o cabelo. Aprendi uma outra língua. Namorei.

Terminei e não comecei de novo.

Descobri que vinho é bom. Já quis ser palhaço (apesar de hoje ter aversão aos meus possíveis colegas de trabalho), já quis ser freira e lixeira quase de uma vez só. Fiz boas festas. Fiz poucos amigos, mas conheci diversas pessoas. Fiz dança de salão. curso de mosaico. Ballet e Arco e Flecha. Toquei baixo. Masquei muito chiclete. Disse muitas vezes eu te amo pra poucas pessoas. Não tirei minha pinta da ponta do nariz que hoje faz parte de mim como nunca tinha feito. Estudei pouco. Tive notas altas. Escrevi boas histórias e histórias terríveis. Ouvi orquestra e vi danças lindas. Conheci um pouco o mundo e o mundo pouco me conheceu. Sorri a ilustres desconhecidos. Fiz careta pra muita gente tola. Falei pouco palavrão, mas já falei muita coisa, nada de muito valor, admito, afinal o que se pode dizer de valor quando se tem 18 anos?

Vomite-se!

Vomitei as mágoas e ansiedades. Coloquei fim aquilo que não teve começo.
As lágrimas caíram para dentro de mim durante algum tempo. Vomitei-as também.
Vomitei os nomes, as cores, os cheiros. Vomitei ele, ela e todo mundo que havia engolido. Vomitei os murros e chutes não dados, os palavrões não ditos. Vomitei as lembranças perdidas, os arrependimentos. Vomitei meu país, meu RG e cidade.
Vomitei os apelidos e as piadas. Vomitei tudo que me fazia mal e doente. Vi-me finalmente livre...e então, vazia demais... Morri naquele instante que me encontrei feliz.
Logo que a felicidade está em sua destemida busca e não em seu casual encontro.