sexta-feira, 27 de março de 2009

A casa

Volto a minha cidade de origem, a minha mansão de infância.E encontro o eco que vai, a cada palavra dita, diminuindo as mesas e cadeiras de madeira densa; vai amarelando as paredes brancas de peladas de figuras; vai, pouco a pouco, depositando a poeira nas grades da sala e na minha memória de pequena.
Descubro a muito custo - passado alguns anos de juventude e outras desventuras - que fui enganada.
Mas o eco então me esclarece: Não sente falta do mármore gelado nas paredes do banheiro, ou dos estalos da madeira do assoalho anoite. Sente falta é de quando não me ouvia, de quando tudo era música: o cortador de grama ligado de manhã, o Djavan no rádio da sala, as risadas, o chororô, os talheres sambando na gaveta, pão saindo da torradeira, os pulos com elástico na sala, a voz do Willian Bonner na tv, o barulho do bife na chapa industrial que papai comprou, as dancinhas na frente do espelho do banheiro, o borbulhar da água com gás na garrafa de vidro, o café e no fim do dia o obrigatório pedido de benção. Esqueça a casa, ela não é mais tua, ela é de alguma mosca branca.
Mas se queres um conselho: não vais se empoeirar nas ilusões da tua infância, procura a banda!

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