quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ônibus da Cidade

Depois de um dia cansativo, consegui subir no ônibus com meu último suspiro. O calor que juntei na corrida pelo ônibus parado se somava àquele ar natural que todo meio de transporte coletivo do Brasil no verão tem.
Então, no sacudir do ônibus, meus olhos encontraram ao acaso um livro aberto. Queria eu ter tido a chance de parar antes, enquanto eram apenas palavras soltas...Mas li.

Algo como:
- Desculpe Greta, não queria ser rude.
- Tudo bem.
- É que eu estou...
- Eu apenas não quero sua amizade, pois nunca sei quando você terá esses ataques de mal-humor.
- Não faça isso.
- Não há outro jeito, Diniz.
- É que...Eu te amo.

E por um segundo, eu vi Greta confusa e ouvi Diniz gaguejar de nervoso...
Olhei a minha volta, senti meu cheiro de suor feito de poeira e calor, vi as mãos calejadas da dona livro, percebi sua alça de sutiã displicente e seu cabelo desordenado amarrado em coque.
Queria cutucá-la e dizer que a história é verdadeira. Queria chamá-la de Greta e ver seu Diniz a sua espera na próxima parada do ônibus.
Era triste não poder me furtar de um romance tolo para dar a ela de presente.
Desci quase desolada, mas pedi a Deus que desse aquele livro um fim pior do que aquela dona.

Amor de Catraca

O Santa Mônica recém abandonara o terminal uns minutos mais tarde contados no relógio de pulseira gasta da moça. Esse era o terceiro ônibus de volta para casa. Terceiro e último.
Na parada seguinte desceu uma senhora gorda de coque alto, cheirando a sabão de coco e a moça, prontamente, alcançou seu lugar, que de costas ao motorista, tinha vista a quatro tipos estranhos esparramados na última fileira de bancos.
O Parque São Jorge deixara a estação quase vazio e por quase no horário previsto. O moço sentado sozinho, que por um momento não pensava em nada, ouvia ao fundo as discussões do casal a sua frente.
Na avenida mais comprida da cidade, os dois santos quedaram lado a lado. E como se Deus, cansado das mesmices de terça-feira, quisesse, naquele instante, ver o amor; o moço e a moça se encontraram pelos vidros espessos de solidão. Uma vida inteira feita em segundos suspensos no ar sujo da cidade.
O São Jorge dobrou a rua e foi caçar dragões em outras luas que não aquela. O Santa Mônica parou um pouco mais adiante para a moça saltar. Ela chegou em frente a casa e sorriu enquanto procurava na bolsa as chaves da porta.
O moço ouviu o motorista anunciando sua parada e saiu fazendo barulho com seu bastão de ferro nos canos do ônibus.

sem valor pra ter título

Eu tenho um amigo...Eu tinha um amigo. Ele não morreu, mas deixou de ser amigo. Deixou de ser quando eu descobri que ele tinha um coração melhor do que queria parecer aos outros. Achei que ele era dos meus...As típicas pessoas gentis e amáveis que escondem uma maçã podre no lugar do coração. E agora sem amigo pertenço ao mundo das pessoas sozinhas. Mundo grande.
Fiquei confusa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

tombos de bicicleta

Fugi, confesso derrotada que fugi. Depois de escrever que procurava algo -que aliás, ainda não encontrei - voltei algumas vezes a essa página em branco. Voltei com a ilusão de que abri-la apenas, seria o suficiente. E depois de uma noite pela metade e um dia comprido, eu em parte cansada e em parte chorosa peço perdão a mim mesma por fracassar. O que se perde eu não acho e fosse, talvez, diferente, se em algum momento de minha vida eu tivesse sorrido por fracassar. Agora se meu nariz escorre ou se me proponho banho para molhar as lágrimas é porque não aprendi a rir enquanto caía da bicicleta.
Esqueçam essa história de filtro solar, se posso dar um conselho...é esse: Fracassem!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nova Postagem

Acordo com a sensação que algo sumiu. Acordo várias vezes, por vários dias...E noites. Não fico triste e não tenho sede. Alguma coisa sumiu.
Talvez eu nunca tenha dito que sou péssima em achar coisas. E não é que eu não tente encontrar...Ou, não é que eu não tente todas as vezes.
Eu entro na dispensa. Eu olho. Eu procuro. Eu não acho.
Então alguém se aborrece.
Ele entra na dispensa.Ele olha. Ele ri. "Aqui!"
Sim, aqui onde eu olhei.
O problema não é mais a dispensa...Pelo menos, por enquanto.
O problema é que...Alguma coisa sumiu. E não foi da dispensa ou do armário ou da gaveta do quarto dos meus pais, ou da pia do banheiro, ou embaixo colchão ou atrás do quadro onde eu costumava guardar dinheiro.
Alguma coisa sumiu.
Então, isso não é na verdade uma "nova postagem".
É um pedido.
Alguém poderia me devolver...