quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Amor de Catraca

O Santa Mônica recém abandonara o terminal uns minutos mais tarde contados no relógio de pulseira gasta da moça. Esse era o terceiro ônibus de volta para casa. Terceiro e último.
Na parada seguinte desceu uma senhora gorda de coque alto, cheirando a sabão de coco e a moça, prontamente, alcançou seu lugar, que de costas ao motorista, tinha vista a quatro tipos estranhos esparramados na última fileira de bancos.
O Parque São Jorge deixara a estação quase vazio e por quase no horário previsto. O moço sentado sozinho, que por um momento não pensava em nada, ouvia ao fundo as discussões do casal a sua frente.
Na avenida mais comprida da cidade, os dois santos quedaram lado a lado. E como se Deus, cansado das mesmices de terça-feira, quisesse, naquele instante, ver o amor; o moço e a moça se encontraram pelos vidros espessos de solidão. Uma vida inteira feita em segundos suspensos no ar sujo da cidade.
O São Jorge dobrou a rua e foi caçar dragões em outras luas que não aquela. O Santa Mônica parou um pouco mais adiante para a moça saltar. Ela chegou em frente a casa e sorriu enquanto procurava na bolsa as chaves da porta.
O moço ouviu o motorista anunciando sua parada e saiu fazendo barulho com seu bastão de ferro nos canos do ônibus.

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