sexta-feira, 24 de junho de 2011

Entre letra e música

Malditas palavras adoráveis. Basta eu hesitar. Basta eu pensar que poderia estar novamente de coração partido e vocês aparecem saltitantes, insaciáveis e terríveis. Malditas palavras adoráveis. Me amam? Ou amam o gosto perdido de minha boca? Os olhos brilhantes das lágrimas que não caem? Malditas palavras adoráveis. Tenho de escolher? É tão injusto. Malditas palavras adoráveis. Eu rio. Nunca precisei escolher. Diante do amor, eu me rendia sem perceber. Eu as expulsava sem dó. Sentia até prazer em vê-las partir. Meu corpo se enchia de música. E eu me tornava uma maldita mulher adorável.

Apenas uma dose de amor

Por que amar? Descobri hoje que basta uma dose extra de café puro e todos os sintomas do amor aparecem. Então sinto minhas mãos suadas, o frio nas extremidades, o tremor dos dedos, a falta de ar, pupilas dilatadas,a insônia boa, uma dorzinha prazerosa no fundo do peito e a sensação de comer pra quê?
Sim, basta uma dose de café extra todos os dias. Um café que sempre ficará nos sentimentos do primeiro bom encontro, que não te liga, que você pede quando tem vontade, sem discussão - talvez, uma ou outra acerca de açucar,adoçante...
Acabaram os sofrimentos, o medo da perda, os desacordos, a decepção.
Basta amá-lo.
E ele estará ali. Pronto para confortar um coração cansado.
Mas lembre-se: cafés não sabem escrever cartas de amor.

domingo, 8 de maio de 2011

Fui eu ou o amor?

O anel duplo de zebra ficou no canto da pia do banheiro. Os dedos dentro dele se foram. Tocaram por última vez meu rosto e abriram porta. Tive tanta raiva daqueles dedos gelados tocando meu rosto. Raiva, porque, por um segundo, achei que era mentira. Afinal de contas, a dona do anel de zebra era atriz. E quando se tratava de discussões,ela era profissional. Então tive raiva dos dedos gelados, porque achei que eles também-junto àqueles olhos inchados- eram a obra-prima de sua grande cena. A despedida. E ri, quando pensei que por um segundo ela estaria me esperando sair, ao mesmo tempo que fingisse esperar o elevador. Respirei. Em alguns momentos, eu gostava das cenas, dos dialogos e frases de efeito. Quando eu sentia que poderia atuar junto a ela.
E o roteiro eu já imaginava: Sem muita paciência, eu sairia do apartamento, olharia aquela pobre menina que fingi não chorar (quando de fato já não chorava). Eu veria em seus olhos o doce prazer inevitável de me fazer ir atrás dela.Uma vez mais. Eu faria uma expressão de "só porque eu te amo muito" e respiraria forte. E a tomaria pela cintura e a abraçaria rápido para que não dissesse mais nada. E esperaria ela fazer menção de entrar novamente no meu apartamento. Ela assoaria o nariz. Molharia os olhos. E voltaria com um sorriso infantil. E eu sentiria raiva de novo. E a raiva passaria assim que aquela boca fresca me beijasse como se fosse para sempre.
Então fui ensaiado para a grande cena.
E pela primeira vez, nessa sessão, o final era outro.
Ator amador, pensei.

sábado, 7 de maio de 2011

Fui eu ou o amor?

Bate a porta e o som que ela faz quando o fez ecoa em sua cabeça. Se foi. Partiu. Como qualquer final infeliz que existe. Já faz 5 ou 7 dias que a porta bateu. O mesmo tempo - 5 ou 7 dias - que a porta bate em sua cabeça. O que ele nao sabe é quanto tempo faz que ele a busca no apartamento. Ele sorri, um vidrinho de perfume ficou. Um lenço, que para ele é uma amostra gratis do cheiro precioso do pescoço dela. As cartas. Onde estarao as cartas? Tem algumas espalhadas entre as gavetas do quarto e a sacola preta de lembranças...Existem 6 fotos dela, de mim, da gente de sorriso congelado, fotos que ela me deu, todas sao dela enderaçadas a mim.Onde estarao as fotos que eu nao fiz, que nao revelei, que nao existem? Agora todos os recados atrás de todas fotos parecem curtos. Livros! Existem mensagens nos livros que ela me comprou. Lindo! Existem até erros de ortografia e rabiscos e datas.
Tudo que existe dela no mundo vira ouro quando a porta bate. Tudo que nao era nada. Ou era, mas nao era muito, hoje, quando a porta bate, é tudo.

sábado, 30 de abril de 2011

diléctica de uma tonta

Não chove. Não faz calor. Nem frio.
Não estou cansada. Ou disposta.
Não sinto que deveria rir. E não tenho vontade de chorar.
Ontem é igual a hoje. E ontem não foi sábado.
Não tenho fome, mas não estou satisfeita.
Me contento com o pouco e me desespero por não ter muito.
Não tenho vontade de ver um filme. Ou ler um livro. Ou não fazer
absolutamente nada. Não quero responder que estou mal. Não quero
fingir que não estou bem. Todo dia passa, sem meu consentimento.
Todo dia passa, independente de mim.
Não estou cheia...Sim, me sinto vazia.

domingo, 20 de março de 2011

Antes que passe março...

Pés suados no chao frio e a sensaçao de que estou sendo observada por uma largatixa perto da porta, me dizem: Voce está no Brasil. Percebo que tenho unhas compridas, unhas compridas, no meu caso - e digo no meu caso, porque é diferente do caso de todas as outras mulheres no planeta - significa: Voce nao podia estar se importando menos com voce mesma.Neste instante percebo também, que estou de anel e pronta para dormir, e penso: Nao é tao verdadeiro a estória das unhas compridas.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Do dicionário

Saudade é coisa que vem sem pensamento.
Saudade é sensação involutária.
Saudades cresce mesmo quando se está dormindo.
Saudade silenciosa que não cala.

Elefante branco

Dentro de um edifício branco, em frente a um elevador.Foi assim que nos despedimos. Silêncio. Cheiro de reforma. Minúsculos pedacinhos de reforma no piso novo. Porta sem verniz. Luzes amarelas quases virgens.
Colocou música no meu ouvido direito. Colocou música no seu ouvido esquerdo. E antes que me desse conta, eu ensaiava passos tímidos abraçada a sua camisa xadrez. Foi assim que nos despedimos. Depois, entrei naquele elevador e fui direto pro Brasil.

No meio de voltar

E sobre tanta coisa que eu deveria falar, fico sem nada para escrever. Já se foi o ano passado, os meses, os aviõs, meu sotaque. Cadê eu?
Nunca acreditei nessa de universo paralelo. Nunca acreditei até agora. Cadê eu?
Nao sei. Pergunta básica que eu não sei responder. Por favor, não tente algo mais difícil. Cadê eu?
Posso responder em frente ao computador, sentada num sofá sobre o qual já escrevi (talvez o ano passado...Retrasado)? Sim.
Posso responder que estou voltando? Sim.
Posso responder que estou no meio da viagem, entre a porta que bati às minhas costas e aquela que abri a minha frente? Sim
Entende agora onde eu estou? Ou voce se cansou de me esperar chegar, cansou de abrir essa porta e ver outubro do ano passado que já tinha passado? Tudo bem. Eu cansei.
Mas eu estou chegando.
Volta aqui, vamos conversar. Você, um dia, já gostou de mim.
Cadê eu?
Cadê você?