segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Outubro passou...

A primavera me trouxe alguém.O sol veio, finalmente. Este sol que risca, uma vez ou outra, as pontas dos pés desse homem. Estamos jogados na varanda.Ele respira fundo, e minha cabeça sobe e desce em seu peito. A construçao da frente rompe, todo tempo, o silencio. Sao centenas de homens de capacetes coloridos erguendo um edificio ostentoso.Um lego gigante e seus "playmobils" sem rosto.
Volto meus olhos aos pés desse homem ainda soltos para fora do nono andar.Sao estes os pés do homem que amo. Sao estes os pés que esquentarao meus pés mais tarde. Obrigada Deus por meus pés gelados. Obrigada Deus pela orquestra celestial que bate martelos logo ali, naquela esquina. Obrigada Deus por outubro.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Santiago

Eis que me ataca uma dúvida cruel. São 7 horas da manhã e o despertador toca.Calço meu tênis de corrida e saiu. Apesar do meu esforço em correr cada vez mais rápido, a dúvida me persegue por todo o parque e igualmente cansada, sobe as escadas e volta comigo para casa. Ela se ducha na água morna sem pressão, e quando por um instante, penso que finalmente se foi pelo ralo junto com meus cabelos; é, justamente, ela que entra atrasada no metrô lotado.
A dúvida grita meu nome e finjo não escutá-la.
Então, ela grita mais alto e eu, constrangida e dividida entre Baquedado e Salvador, aumento o volume da música.
As portas do metrô se fecham e observo meu reflexo no vidro. Estou cansada. Pareço cansada. Lembro da noite passada e da tal dúvida cruel atacando meus pés gelados.
O metrô pára, abrem-se as portas e eu finalmente saiu. Ela segue ao meu lado e finalmente toma-me a mão. Eu desisto de fugir – ela rouba minha atenção e bebe meu café – e o dia passa.
Depois de tantas horas juntas, eu estou feliz com sua companhia e já não me lembro mais porque fugia. Rimos e dançamos no apartamento sem móveis.
E sem se despedir, ela some!
E no mesmo instante que some, eu abro uma caixa de texto e escrevo: Eis que me ataca uma dúvida cruel.

domingo, 15 de agosto de 2010

meu corpo de homem

Amo o corpo do homem que amo. Amo o espírito do homem que amo. Nao amo nenhum outro. Só um.
Amo um corpo que nao deseja meu corpo. Amo um espírito que já nao mais existe. Um espírito que virou poeira. A mesma poeira que entra pela janela e irrita meus olhos tristes. Estou sozinha. Sem o corpo que amo, sem o espírito. E é nesse instante que o ar acaba, o peito dói e a cabeça desiste.

terça-feira, 29 de junho de 2010

La extranjera II

Vuelvo al café que me odia.
Y él cuando me ve, grita:
- ¡La chica tonta!
Siento que tal vez una lagrimita
Quiera partir de mi ojo izquierdo.
Pero río.
Él se enoja. Grita más fuerte:
- ¡La chica tonta!
Yo río más fuerte.
Él se tira a mi camisa blanca.
Silencio.
La taza toca el piso.
El café se fue.
Mi camisa se fue.
Resta yo.
Tal vez con el pecho,
Por primera vez,
Cálido.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

15 minutos para cafe

Percebo que no Chile, minha vontade de amar é maior.
Fico feliz com isso, e por isso amo, sem pudor, a tudo que me cerca.
Amo inclusive, a alguém, que por nao me amar, me deixa.
Amo o vazio que isso me provoca, amo a maneira com que meu corpo fica mais sensível ao frio depois dele.
Do vazio.
Minhas maos seguem geladas. Talvez, ainda mais geladas.
E eu sigo a rua, sozinha.
Sigo contente.
Sigo.
"Quizás", na companhia de minha melhor versao.
Perguntam-me porque eu nao prefiro escrever a mao. É simples, nao existe nada mais perigoso que uma folha em branco. Guardo meus perigos para dias feios, no improviso de guardanapo. Quando tudo se assegura que o sentimento só existe enquanto cai a chuva.
Perguntam-me porque eu nao escrevo sobre meus amores. É simples, nao há nada mais previsivelmente fatal que palavras de um amor sincero.

terça-feira, 11 de maio de 2010

La chica tonta (corrigido)

Soy la extranjera,
Las personas no me quieren
No me hablan
Y cuando pido un café
Chiquitito
El propio café se molesta.
Y me dice:
- No te quiero tampoco.
Es muy chica,
Muy tonta.

Hay silencio.
Después lloro bajito.
Y cuando mi lagrima
Cae en la taza:
- Lloras niña tonta,
Lloras todo, sin parar,
Lloras hasta cuando pueda!

Hago lo que me dice
Y poco a poco
Mis lágrimas van
Cayendo…
La taza queda chica y
El café ahora es té.

domingo, 11 de abril de 2010

pelo caminho

Repouso meu corpo cansado da fuga em seu corpo. Deslizo meus dedos doloridos nos braços do homem a quem amei. Voltei.Sem querer voltar, errei. Ele me diz histórias já ditas, ele me beija o beijo já dado. E ainda assim, volto. Volto pelo caminho que conheço. Volto ao destino que pertenço.Cabeça baixa, ombros tristes, volto arrependida. Volto arrependida de voltar. Desejo morrer pela estrada, desejo sumir pelo caminho, desejo. Desejo pés tortos. Cegos. Mas meu corpo conhece seu destino, ele segue na mesma retidão que conheceu ao amar. Meu corpo não grita, não se agita, ele permanece. Encostado em outro corpo. Olhos de pérola naufragados no mar tranquilo que é meu destino. E num instante, recordo: Oh, sim, deu-me brincos de pérola no último verão.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dois cafés.Um puro.

Chovia como se fosse durar toda a eternidade. Sem pressa. O céu branco encobria há tanto tempo o azul e a forte claridade do alto não se refletia no mar. Ela mantinha a respiração tranqüila como as gotas que brilhavam na calçada. E apesar de assim fazê-lo, falava com animação sobre assuntos que me eram completamente estranhos. Ela sabia ser interessante. Eu não sabia mentir.
De tempos em tempos, ela confortava a grande xícara de borda grossa nas mãos e bebia o café olhando-me nos olhos. Fazia isso esperando de mim algo. Qualquer coisa. E a cada pausa, me via cercado pela chuva de fora e pelo fracasso que me cabia por dentro. Eu sorria, ajeitava meu cabelo e sorria.
Enquanto me perguntava porque diabos ela continuava voluntariamente a se enganar a meu respeito, um menino bateu na janela da cafeteria com seu carrinho sem rodas. Num susto contido, percebi que a sujeira do café secara no fundo da xícara e a chuva refreava aos poucos.
Pedi licença e segui para o caixa. Dois cafés.Um grande. Puro. E um pequeno com leite. Paguei. Na espera do troco, olhei para ela. Examinava com atenção as rosas que comprei no sinal.Curiosamente, não as beijou...O troco.
Arrastei as moedas até a borda do balcão, ainda a mirando. Andei até nossa mesa. E sem poder resistir perguntei o que estava fazendo.
Ela sorriu. Assoprava no centro das rosas para que desabrochassem mais rápido.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ônibus da Cidade

Depois de um dia cansativo, consegui subir no ônibus com meu último suspiro. O calor que juntei na corrida pelo ônibus parado se somava àquele ar natural que todo meio de transporte coletivo do Brasil no verão tem.
Então, no sacudir do ônibus, meus olhos encontraram ao acaso um livro aberto. Queria eu ter tido a chance de parar antes, enquanto eram apenas palavras soltas...Mas li.

Algo como:
- Desculpe Greta, não queria ser rude.
- Tudo bem.
- É que eu estou...
- Eu apenas não quero sua amizade, pois nunca sei quando você terá esses ataques de mal-humor.
- Não faça isso.
- Não há outro jeito, Diniz.
- É que...Eu te amo.

E por um segundo, eu vi Greta confusa e ouvi Diniz gaguejar de nervoso...
Olhei a minha volta, senti meu cheiro de suor feito de poeira e calor, vi as mãos calejadas da dona livro, percebi sua alça de sutiã displicente e seu cabelo desordenado amarrado em coque.
Queria cutucá-la e dizer que a história é verdadeira. Queria chamá-la de Greta e ver seu Diniz a sua espera na próxima parada do ônibus.
Era triste não poder me furtar de um romance tolo para dar a ela de presente.
Desci quase desolada, mas pedi a Deus que desse aquele livro um fim pior do que aquela dona.

Amor de Catraca

O Santa Mônica recém abandonara o terminal uns minutos mais tarde contados no relógio de pulseira gasta da moça. Esse era o terceiro ônibus de volta para casa. Terceiro e último.
Na parada seguinte desceu uma senhora gorda de coque alto, cheirando a sabão de coco e a moça, prontamente, alcançou seu lugar, que de costas ao motorista, tinha vista a quatro tipos estranhos esparramados na última fileira de bancos.
O Parque São Jorge deixara a estação quase vazio e por quase no horário previsto. O moço sentado sozinho, que por um momento não pensava em nada, ouvia ao fundo as discussões do casal a sua frente.
Na avenida mais comprida da cidade, os dois santos quedaram lado a lado. E como se Deus, cansado das mesmices de terça-feira, quisesse, naquele instante, ver o amor; o moço e a moça se encontraram pelos vidros espessos de solidão. Uma vida inteira feita em segundos suspensos no ar sujo da cidade.
O São Jorge dobrou a rua e foi caçar dragões em outras luas que não aquela. O Santa Mônica parou um pouco mais adiante para a moça saltar. Ela chegou em frente a casa e sorriu enquanto procurava na bolsa as chaves da porta.
O moço ouviu o motorista anunciando sua parada e saiu fazendo barulho com seu bastão de ferro nos canos do ônibus.

sem valor pra ter título

Eu tenho um amigo...Eu tinha um amigo. Ele não morreu, mas deixou de ser amigo. Deixou de ser quando eu descobri que ele tinha um coração melhor do que queria parecer aos outros. Achei que ele era dos meus...As típicas pessoas gentis e amáveis que escondem uma maçã podre no lugar do coração. E agora sem amigo pertenço ao mundo das pessoas sozinhas. Mundo grande.
Fiquei confusa.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

tombos de bicicleta

Fugi, confesso derrotada que fugi. Depois de escrever que procurava algo -que aliás, ainda não encontrei - voltei algumas vezes a essa página em branco. Voltei com a ilusão de que abri-la apenas, seria o suficiente. E depois de uma noite pela metade e um dia comprido, eu em parte cansada e em parte chorosa peço perdão a mim mesma por fracassar. O que se perde eu não acho e fosse, talvez, diferente, se em algum momento de minha vida eu tivesse sorrido por fracassar. Agora se meu nariz escorre ou se me proponho banho para molhar as lágrimas é porque não aprendi a rir enquanto caía da bicicleta.
Esqueçam essa história de filtro solar, se posso dar um conselho...é esse: Fracassem!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nova Postagem

Acordo com a sensação que algo sumiu. Acordo várias vezes, por vários dias...E noites. Não fico triste e não tenho sede. Alguma coisa sumiu.
Talvez eu nunca tenha dito que sou péssima em achar coisas. E não é que eu não tente encontrar...Ou, não é que eu não tente todas as vezes.
Eu entro na dispensa. Eu olho. Eu procuro. Eu não acho.
Então alguém se aborrece.
Ele entra na dispensa.Ele olha. Ele ri. "Aqui!"
Sim, aqui onde eu olhei.
O problema não é mais a dispensa...Pelo menos, por enquanto.
O problema é que...Alguma coisa sumiu. E não foi da dispensa ou do armário ou da gaveta do quarto dos meus pais, ou da pia do banheiro, ou embaixo colchão ou atrás do quadro onde eu costumava guardar dinheiro.
Alguma coisa sumiu.
Então, isso não é na verdade uma "nova postagem".
É um pedido.
Alguém poderia me devolver...