segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Italiano

Um sotaque forte, que confunde os ouvidos mais aguçados. Era charmoso e sofisticado, esse tipo naturalmente europeu, que encanta com uma palavra ou duas ditas no próprio idioma. Tinha uma postura diferente dos homens ordinários. Um terno caro da mesma procedência do dono; acompanhava belos sapatos recentemente engraxados. Tocou a testa, estrategicamente, com os dedos e olhou para mim, que disfarçava entre um gole de jornal, e umas palavras de café.Depois, ajeitou-se na cadeira, sem pretensão alguma de olhar-me de novo.Voltei ao meu mundo das idéias, deixando para trás a curiosidade sobre aquele senhor. Mas desci rapidamente as escadas dos meus pensamentos quando senti a presença do garçom.
-O cavalheiro que estava ali sentado, deixou uma gorjeta gorda para pagar suas despesas aqui.
Eu sorri, estava certa sobre ele não ser um homem ordinário:
-Hum, então talvez eu queira mais um café e um pedaço daquela torta.
O garçom riu pela primeira vez e com certa intimidade, sugeriu:
-Trarei um pedaço e embrulharei todo o resto para a viagem.
E saiu sem esperar resposta.Consenti. A torta da casa era a melhor da cidade e a mais cara também.Olhei para o lugar que o estrangeiro havia ocupado e seu cigarro ainda fazia fumaça apoiado no cinzeiro.Sorri.Subi as escadas novamente e fiquei ali até dormir.
Acordei algumas vezes durante a noite.Seria uma história para contar aos meus futuros namorados, filhos e até netos.Era tão nova e já me fora permitido apreciar tal cortesia.
Dias depois me encontrei com o italiano novamente, dessa vez num jornal em letras garrafais: MAFIOSO ITALIANO É ENCONTRADO NO BRASIL.
A torta durou mais tempo do que eu a observar o estrangeiro, mas ela, já não era a mesma.

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