quarta-feira, 2 de maio de 2007

A violinista

Sentei em uma poltrona desconfortável, e não diferente da maioria das pessoas, senti um chiclete que parecia completar alguns meses naquela inércia de orquestras e peças de teatro.
Disseram-me qualquer coisa sobre o apresento de hoje, um piano, um maestro e mais alguns instrumentos.
E naquele cenário inconseqüente as pessoas falavam, comiam, ou infelizmente - como o menino ao meu lado-faziam ambos ao mesmo tempo.
Mas como por uma prece minha ao deus da pouca socialização, toca o último aviso. Fiz uma cara feia ao garoto que calou tão rapidamente, despertando a atenção de sua mãe que me olhou com desaprovação. Fingi não ser pra mim.
Ajeitei-me na cadeira, abriram-se, então, as típicas cortinas vermelhas tão surradas e empoeiradas que causam tosse momentânea aos felizardos que conseguiram ingressos na primeira fila.
Entram os músicos, a platéia leiga bate palma, e penso mais uma vez que morar longe de um país democrático me faria feliz.
Começa a música, o maestro costura todas as notas dos instrumentos, uma mulher pobremente vestida para um evento daqueles, ocupa lugar de destaque junto ao pianista, mantém os olhos curiosamente fechados, tocando um violino que deve ter sido comprado na mesma época de seu traje. Logo já me esqueci do garoto que ocupava com seu bracinho gordo a maior parte do braço da cadeira que nos era comum. Nada mais via senão a violinista, de respiração pausada e gentil. Procurei a vida toda por uma mulher assim. Trataria-me da mesma forma que ela o toca: firme e carinhosa, passional, mas disciplinada pela partitura. Tive inveja de um violino curtido, e logo me lembrei que depois da bela música há sempre as mãos que não o tocam, mas o guardam. Resolvi parar de pensar, sublimaria aquele momento, esforcei-me para guardar fresca a música que poderia me lançar dias menos infelizes. E como em uma reverência cortês, as notas foram acabando até violino dar seu último grito abafado.
Levantei-me e aplaudi estaziado, perplexo, feliz. E sozinho.
Deve-se apenas expor qualquer emoção, seja ela vaia ou palmas, no FIM.
Sentei-me constrangido, a violinista me olhou com olhar sério e insolente. Aquele mesmo olhar que dei ao garoto minutos antes para que não incomodasse mais.
Na saída, segui para o carro de cabeça baixa, mas deixei como lembrança um chiclete de menta que terminaria seus dias ali. Entre palmas e olhares descontentes.

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