segunda-feira, 7 de maio de 2007

Brilhante

Era um anel de brilhante como aquele de minha avó, que se perdera em um baile de aleluia. Reluzia em uma mão juvenil e displicente. As unhas pintadas tentavam em vão esconder mãos calejadas de um trabalho digno do passado. Essas mesmas mãos que agora alisavam meus cabelos. Perguntei sobre seu anel. Ela riu, o olhou orgulhosa, e pensou por algum tempo. Depois bebeu a pinga barata de meu copo e o colocou de lado, vazio. Começou a me falar de um tal barão rico que a fez madame com dois casacos de pele, vendidos a um de seus clientes que daria a esposa como presente de uma fictícia viagem ao exterior; o anel de brilhante em sua mão e um filho bastardo abortado após o suicídio do barão pela queda do café. Ela me pareceu pouco deprimida pelo tamanho dos desastres em sua vida. O que eu era além de um estudante de direito em busca de uma aventura bem tradicional de minha época?E ao meu lado uma moça que apesar de pouca idade, era senhora de uma vida clandestina e obscura. Pensei em seus sorrisos ao falar de seu verdadeiro amante, de como pela primeira vez na noite seus olhos se iluminaram ao olhar o presente do passado.Conheci naquele momento uma entidade completa, uma verdadeira professora na arte da infelicidade. Levantei-me rápido, tropecei no copo vazio e apanhei meu casaco que parecia mais confortável que eu na cadeira. Ela me olhou agressiva, procurei não encontrar com seus olhos novamente. Bati a porta e ouvi ao fundo seu grito me xingando de tantos nomes terríveis que alguns não imaginava existir e me cobrando dinheiro pelo trabalho não feito, mas pelo tempo gasto. Voltei a pé para casa. Na sala, meu pai deu-me um sorriso orgulhosamente machista. Sorri, fingindo aceitar a honraria. Olhei para minha mãe-que dissimulada-pretendia dar atenção às flores nessa hora. Passei alguns dias a pensar na mulher, em seu anel, em seu barão. Voltei àquela casa que mesmo durante o dia parecia mal iluminada. Dei o dinheiro que fora combinado por nós, ao homem na porta. Sai feliz e convicto de que não me veriam ali novamente.
Alguns anos depois voltei. Paguei e consumi.Algumas vezes. E me tornei aquilo que me fizera correr naquela noite. Um solitário.

2 comentários:

Clube Jatobá disse...

Sra. Granucci, confesso que estava ansioso por elogiar-te, mas receava não o mereceres. A boa fortuna me mandou topar este texto, que serenou minha vontade e satisfez meu gosto. Se me permites, lanço mão do seu título para o definir, acomodando-lhe um pontinho de exclamação: "Brilhante!".
Vale!
Jerônimo Boaventura (sócio do Clube Literário Jatobá).

mirella_granucci disse...

lisongeada e tímida aceito teus elogios não porque os mereço, mas talvez por que meu ego os queira.haha
Como também aceito críticas, aquelas velhas sementes que anseio receber para cultivar um belo jardim virtual!
Sra. Granucci