quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Mirella X Mirella
Tinha por diversas vezes a sensação que Mirella gostaria de me matar.Teria gosto de ver meu sangue, mesmo que gozasse mais em ver meu desespero em fugir...Em fugir de mim mesma.
Eu acordei em algumas partes da noite, desesperada, tentando - em vão - não pensar em mim mesma com aquele riso hediondo e aquela vontade louca de ver a Mirella "em fuga" morta.
E sim, tive medo de mim.
Fazia tempo que não deixava pesadelos reinarem em meus sonhos.
Da última vez até guardei com saudade; era de uma bruxa que fugia de minha casa roubando coisas e tudo isso em desenho animado.
Animado...
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
corrida inglória
Não sei.
Tenho restos de histórias de ônibus, manchas de batom e pés sujos.
Não sei.
Moro numa casa que não me pertence, relaciono-me com pessoas em amizades de poucos minutos e tenho sempre uma teoria pra tudo.
Adoro falar sobre relacionamentos amorosos e no momento me contento em ser como a maioria das pessoas, na fuga ignorante de algo que só se corre quando não existe.
Mas eu juro que corro bastante!
E no fim do dia eu ganho tudo que não perco.
Dedos tolos...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Um prato com figos, por favor!
Diferente de ontem, vi o prato fundo de porcelana pintado com outras flores - e o fio de prata da borda gasto pelo uso. Lembrei das vezes que aquele prato fundo assentava figos e pêssegos frescos nas tardes de feriado na casa de meu avô. (Tardes que agora me são tão significativas.)
Lembrei do cheiro da casa guardada pelo tempo, dos típicos sabonetes Granado e de suas camisas Lacoste.
E sim, o gosto daqueles figos doces na minha boca infantil que não existe mais.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Com sofá e sem história
Hoje disse a um amigo. A despedida é um caco de um cortejo fúnebre que se partiu em mil pedaços. Depois ri.
Partirei.
Antes de ouvir desse sofá a história que está por vir.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Terçois de domingo
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYCsl3-2Wxi4Cp7wYC4oFW-Fzf7MbK8oggrEZG_iv6grdRdw7lfYVqlu4cnAkU7G-GfJJuGlRiBjg-VlXWAEL08pea8eZ_38S9PxPM9VProbhgy6YL0r6EP0qT7dtPgKxC-nsXxbSwcmjU/s400/Micus+experimentus+015.jpg)
sábado, 29 de agosto de 2009
À deriva
Ela ainda sentia o arrepio do beijo nas costas e confusa olhou para ele um pouco de cima, procurando sentido. Uma explicação que não veio.
Ela também hesitou. Esboçou um sorriso que se desfez em silêncio.
Apoiou a mão na parede branca do corredor e tirou os sapatos vermelhos.
Colocou os pés nus no carpete e esperou.
sábado, 15 de agosto de 2009
Dark Twenty
Hoje vi dois abutres negros no céu azul divino enquanto esperava o homenzinho verde brilhar a minha frente.
Dois abutres no meio da cidade...Pensei que talvez pudessem estar esperando por mim.
Pegar-me-iam quando estivesse sozinha atravessando a rua.
Um abutre para cada década, pensei.
Ou talvez estivessem apenas para me alertar.
Esperariam por um bando maior para me tirar do chão.
Algo como 7 décadas e 7 abutres. Um bom número. Uma boa idade. Ou mais, isso fica a critério de vocês...
Ei, mas não pensem que me chateei com a presença de vocês. A última vez que vi bichinhos no meu aniversário, eles eram de isopor e isso faz anos. Não, não mais que vinte.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
o quarto
Ele toca e ela bate a porta as suas costas.
Ele não toca.
Jaz uma vida... Ou duas. Jaz um lençol branco e um telefone partido na cabeça de um infeliz.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
Foi um Prazer!
Ao que me parece, finalmente, o ciclo se fecha e com ele qualquer tentativa de união entre um mineiro e uma das senhoritas Granucci. As tentativas foram boas...
Falo por mim que fui feliz quando estive entre vocês, no bar de luz amarela, nas subidas e descidas da cidade (e das baratas), no cheiro do café na Savassi, nos tomates secos e pães (previsivelmente) de queijo que melavam os dedos e, por consequência, as cartas do baralho.
Mas a sorte está lançada e tenho certo que ainda nos encontraremos em livros e contos, em filmes lançados no cinema, em aulas virtuosas, em músicas dedilhadas no violão, em cozinhas sofisticadas, na ilha, nas minas, em qualquer lugar que nos faça querer estar...Sem ressentimentos, mas deixamos o hospital para depois!
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Bailo
Eu, mesmo que apreensiva, peço permissão para tirá-lo para uma dança.
Caixa e papel manteiga consentem e ele se desdobra diante de mim como alguém que aceita sem muito pensar.
É a primeira vez que bailamos juntos e nem mesmo meu rosto com fingido ar sereno consegue secar, neste instante, minhas mãos.
O silêncio, pouco a pouco, me constrange e para calá-lo, pergunto sobre a família, o tempo e todas as formalidades que pedem os bons bailes. Ele, nada diz. Ofendo-me o suficiente para tentar em vão arrancar romance na costura da cintura ou palavras sujas por debaixo das saias. Nada.
Tão distante de mim, só percebo meus olhos molhados, quando o vestido enxuga minha tristeza. E por assim fazer e me deixar ainda pior, de mágoa rasgo-lhe um pedacinho. Arrasto-o também pelo chão frio e ocasionalmente, piso-o... Tudo, sem intenção.
Em meio a tanto desconcerto, a agulha da vitrola foge do risco. Caímos. Sem saber ao certo quem tropeçou em quem. Levando apressada. Minha cabeça se vira lentamente para seu lado como se de alguma forma eu pudesse evitar esse encontro. Aquele, sou eu.
domingo, 3 de maio de 2009
Despedida
Serei feliz ali, além do morro colorido, do esgoto aberto. Onde não há dor ou monstros da infância. Ali, nos meus desenhos de giz-de-cera, de árvores e mãos desproporcionais.
Ali, onde o rosto do sol, atrás da montanha, embala meu sono.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Agradeço.
Agradeço Chico que em plena madrugada derruba leite por debaixo do meu Edredon.
Agradeço novamente Chico por me permitir dançar com seu Guri na manhã de sábado.
Agradeço a um novo amigo, partidário de Chico, torcedor do Politheama e defensor de Geni.
Pois é... Agradeço palavras, boas palavras na contracapa de um livro.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Erro de calendário
Um dia fará sentido o corte horrível de cabelo, os aparelhos no dente e a pomada para frieira.
Um dia fará sentido o primeiro beijo esquisito, o tapa dado e recebido.
Um dia fará sentido a dor no peito e a consciência que não faz dormir.
Um dia fará sentido ter medo da morte e vontade dela.
Um dia fará sentido.
Então não haverá manhã ou chuva ou vento.
Não haverá mãe ou amante ou Deus.
Não haverá dia.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
O amante
"Quatro são as necessidades básicas: comida, bebida, sono e sexo. De nenhuma das três primeiras fui capaz de transformar em ofício.”
Cuspia ele o texto pronto para qualquer pregador de Jesus ou testemunha de Jeová que o abordava. Tinha corpo de homem e rosto de anjo como um Dorian Gray sem quadro e carregava algo de suspeito nos ombros.
Passava suas tardes lendo no sebo de um amigo de profissão – que herdara do pai o lugar decadente e a vergonha.
À noite, nosso homem era antagonista de mulheres casadas, jovens curiosas e viúvas pudicas. Era verdadeiro amante das mulheres e em cada ruga e dobra de pele de suas musas, escrevia sua história. E lia tantas outras nos corpos nus desprendidos de recato.
Conquistava a cada uma delas como Quixote e os moinhos de vento e também permitia ser conquistado pelos cabelos soltos no travesseiro da manhã, pelos choros borrados dos lençóis, pela pele febril entre suas mãos e pelos risos histéricos no meio de um silêncio desordenado.
Numa leitura de um dia qualquer, congelou seus olhos num cenário de sua memória e sozinho naquele sebo, riscou um fósforo.
Antes que fosse abandonado pelo tempo – pois apesar de parecer, não era Dorian-deixou descansar seu coração no calor de suas mulheres de papel.
Sem culpa de ter amado mais do que o mundo pode permitir.sexta-feira, 27 de março de 2009
A casa
Descubro a muito custo - passado alguns anos de juventude e outras desventuras - que fui enganada.
Mas o eco então me esclarece: Não sente falta do mármore gelado nas paredes do banheiro, ou dos estalos da madeira do assoalho anoite. Sente falta é de quando não me ouvia, de quando tudo era música: o cortador de grama ligado de manhã, o Djavan no rádio da sala, as risadas, o chororô, os talheres sambando na gaveta, pão saindo da torradeira, os pulos com elástico na sala, a voz do Willian Bonner na tv, o barulho do bife na chapa industrial que papai comprou, as dancinhas na frente do espelho do banheiro, o borbulhar da água com gás na garrafa de vidro, o café e no fim do dia o obrigatório pedido de benção. Esqueça a casa, ela não é mais tua, ela é de alguma mosca branca.
Mas se queres um conselho: não vais se empoeirar nas ilusões da tua infância, procura a banda!
quinta-feira, 19 de março de 2009
Mônica corta o cabelo.
Caem com eles, particularmente, algumas gotas de choro e sem nenhum discurso planejado para explicar algo que não se precisa, ela sorri. Sorri como se pudesse esconder entre os dentes brancos e brilhantes, suas lágrimas.
Mônica corta o cabelo e aceita; o sono após a refeição, a centrifuga suja de cenoura mais de uma vez por dia, as rezas e mandingas, os olhos marejados dos personagens distantes, a comida “não comida” do avião e o varal de lenços que se estende na casa em frente ao mar.
Mônica corta o cabelo. E com ela, mais uma e outra e mais outra e mais uma outra.
Sim. Preparem mais varais.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Doenças da Estação
E assim o dia todo vira charme; são as leituras desconcentradas no café, os gestos delicados e irresolutos na ponta do nariz, os olhos que carregam algo de quando despertei, o casaquinho leve que expõem as minúsculas partículas de poeira quando ao sol e a incrível sensibilidade que se desprende do corpo.
Ah, as tardes de sol e resfriado...
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Pela janela
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![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDv8A1vvZjVGDcgWUZKWb3LXZ7R-5JUWwE9ljgMfbaQkc_tWKffXXRzeU4T-3iNUsm0yeSrJloJisX6i2-CMoS9hbaBY-uBGgdfhRicPguH_Ly4HzaFmYoG7YKBNNq7SoO8euX442spHTS/s200/mariachi.jpg)
Desenho uma janelinha no papel do bloco de notas. Ela me pergunta o que eu gostaria de ver. Eu respondo:
- Um graveto, um sofá estampado, uma menina ruiva com tranças até os joelhos.
Desejo ver Elvis numa balada romântica, uma plantação de melancia em morro e um macaco cor-de-rosa. Mariachis, galos de briga e mil balões em direção ao sol.
Disse a janela.
* Convido os poucos leitores a pedirem o que gostariam de ver pela janela. Sem censura!
sábado, 3 de janeiro de 2009
Davi e Golias
Tão pouco tinha de soldado, era talvez covarde demais para isso, mas imagino que tinha um coração grande em contrapartida das mãos. Carregava algo de suspeito nos ombros largos e um tanto caídos. Algo que me fez sorrir algumas vezes enquanto pensava na batalha.
O problema dele era viver nas alturas e me fazer tão distante do céu.
E aborrecidamente cansada de preparar grandes planos e frases perfeitas enfrentei o gigante sem armas.
Era evidentemente desvantajosa essa guerra, porém por um desatino imaginei que seria bom sentir a nuvem nos pés de novo (mesmo que essa nuvem fosse se tornar apenas uma garoa de fim de tarde).
Recolhi os pedregulhos que vi no meu caminho e os lancei o mais forte e mais certeiro possível. Errei.
O gigante não caiu e eu?Bem, eu não cai também, mas meu palpite sobre ele foi perdendo alguns centímetros no caminho de volta para casa.
Às vezes, é assim mesmo, as histórias da bíblia são apenas histórias, mas Deus permita que meus pés não se contentem com algodão e o gigante...O gigante ainda será um grande homem, ele só não pode se esconder nas alturas.