segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Admito a ausência...
Foi por uma boa causa...Justíssima, pelo menos.
Foi por um desatino planejado.

Onde estão as palavras?
Me somem
por não serem (felizmente) o desejo
exclusivo de meus lábios.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Pó de café

O calor das mãos suadas comprova o frio do meu peito. A respiração ofegante é efeito da falta de ar que meu corpo desproporcional propõe. As mesmas mãos trêmulas exaustas de bater, agora confortam uma xícara de café...E se minha maldita falta de vícios permitisse, haveria cigarros também.
Hoje sonhei que não tinha forças para andar e desmaiava diversas vezes; a pior parte é que no sonho podemos ver de fora...Vi alguém prostrado e doente.
Acordei e continuei sem forças.
Forças para achar graça na vida, forças para amar e detestar com intensidade aos outros...A mim mesma.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Escritos Escolares: Ciência? Amém!

Ambas tão antigas e questionadas, ciência e religião se confrontaram diversas vezes na história da humanidade por serem curiosamente contraditórias e complementares.Na Antiguidade todo fenômeno da natureza era diretamente associado às vontades divinas, isso fez com que, por muito tempo, não houvesse estudos científicos e os homens que chegassem mais perto de uma explicação plausível fossem levados à guilhotina.Einstein, na Idade Contemporânea foi mentor de descobertas fundamentais no campo da física, porém sempre expôs sua crença no transcendente. Acreditou-se apartir dele que ciência sem religião é coxa e religião sem ciência é cega.Os avanços tecnológicos no futuro e uma sociedade fundamentada apenas na explicação científica irá gerar uma busca por espiritualidade, quando a fé não precisará ser explicada.Assim, apesar da exterma alienação de ambos os lados - fanáticos religiosos e cientistas céticos - é fundamental a procura de equilíbrio. Nele se encontrará fé sem que esta anule o desejo do questionamento.

Fisgou!

Conheci um pescador em uma viagem a trabalho ao Pantanal Mato-grossense. Ele era um tipo divertido de pessoa que conduzia uma boa prosa como ninguém naquele vilarejo. O que o pobre- literalmente pobre – homem não sabia era como fisgar uma mulher.
Admito que o cheiro de peixe podre e as unhas sujas de barro do alagado não poderiam servir de grande ajuda, mas seus companheiros, igualmente higiênicos, tinham uma sereia em casa no final da tarde à sua espera.
O desolado pescador que tão pouco sabia do mundo pediu-me ajuda, afinal para ele, o homem da cidade grande conhecia as mulheres... E como não ajudar? Comecei oferecendo-lhe um banho de verdade e roupas sem remendos grotescos.
Soube depois de alguns dias pela senhorita que me instalara no hotelzinho que o verdadeiro problema estava na sanidade de meu amigo, pois este era dado a conversar com os monstros marinhos que habitavam a imaginação fértil de toda aquela gente. (Sim, pois a loucura não estava na crença dos seres, mas na oratória com eles.).
No último dia de minha estada naquele pedacinho de terra úmida, ouvi da mesma senhorita que o pescador finalmente fora fisgado por uma sereia de verdade. Os companheiros juntos dele no dia da pesca juram que o mesmo moço infeliz que me recebera dias antes, sorria orgulhoso com o rabo de sereia no colo.
Na volta para casa a intrigante estória corroia meu bom senso de homem urbano e confessei baixinho naquele ônibus caindo aos pedaços que talvez existissem as tais sereias e monstros.
Depois ri seu cheiro, felizmente não seria mais sentido embaixo d água.

sábado, 20 de outubro de 2007

Escritos Escolares: um poquinho sobre mim.

Passei algum tempo olhando a parede tentando decifrar o enigma de quem sou.Lembrei-me das diversas vezes que fiz tal complicada tarefa em diários, blogs de internet e transcrevo aqui sem alterações ou censuras alguns de meus retratos.
Aos 14 anos escrevi em um diário de capa estampada achado a alguns dias atrás pegando poeira as seguintes palavras: "Quem é essa com olhar perdido, sou eu, muito prazer, Mirella Granucci, sou a filha caçula, tenho três adoráveis irmãs (...) Eu, MIrella, como já disse, a caçula sou bem sarrista, alias a família inteira é, adoro poesia, e amo cozinhar, sou muito sincera e adoro dar a última palavra sempre." (Nessa época percebe-se meu gosto por vírgulas também).
Minha última definição de caracteres limitados pela maquina de imaginação virtual foi: "Mirella Granucci foi um bebê rosadinho de olhos desproporcionais para um rosto tão pequeno, hoje é uma garota de idéias desproporcionais." Não me pergunte que idéias são essas, pois uma redação é muito curta. 20 a 25 linhas, certo?
Ao fim confesso, quando em frente ao espelho vejo a esfinge pronta para me devorar.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Dia da criança

Sim, admito estar atrasada , é dia 13 à uma e cinqüenta e sete da manhã, foi ontem, repeti para mim mesma, mas estou atrasada também pra essa data e não porque só passou um dia, mas alguns anos e isso é o que de fato me preocupa.

Minha infância foi terrivelmente fantástica: e como ainda há tanto a dizer retiro os verbos, apesar de nunca poder tirar a ação dessa minha fase divina.

Colcha amarela, galochas vermelhas na escola, músicas no típico gravador vermelho, risadinhas todo o tempo, irmãs, joelhos machucados, sítio ( corrida no esterco hahaha), Filmes COM LEGENDA! concurso de fantasia (sempre vencedora: Punk, Boneco de neve, ...), férias no avô, tapa na bunda, arte , todo tipo! Papai e a voz pertinho do ventilador, ou o liquidificador na rede. Risadinhas... Óculos de sol, Mary Poppins, camisola, cabelo liso, teatro da escola, recorte, massinha, qual a diferença de refrigerante e guaraná? Salsicha e lingüiça? O cheiro do cabelo molhado de mamãe no meu rosto, as histórias, as lições de bons modos na mesa do jantar. Xuxa e seu café da manhã, que fome! 100 pintinhos! 100 bidês!
100 isso TUDO que eu @()@ MUITO!

Crianças e velhinhos são pra mim o que há de melhor do ser humano, uma distância tão grande de tempo, mas tão curta de coração, velhinhos são crianças que cresceram e curiosamente parecem a respirar inocência, novamente. Crianças são fantásticas por que apesar da inocência seu julgamento muitas vezes é de um tirano.

Quem era ele?

Não era mais aquele garoto tímido da foto 3x4 na minha carteira. Ouvi que havia se mudado para São Paulo a fim de virar Doutor de respeito e lembrei-me das diversas conversas sobre sua aversão a cidade da garoa. Lembrei de sua covinha e de sua serenidade quando falava do mundo. Sorri algumas vezes para aquela foto que enquanto pequena na palma de minhas mãos, crescia, assustadoramente, em meus pensamentos.
Lembrei também de seu falso medo, que curiosamente se mostrava tão corajoso a me querer. E me peguei pensando no que havia acontecido para que seu querer não tivesse se transformado em ter. Talvez a diferença de idade ou o orgulho de ambos, ou talvez tudo isso junto que nunca foi dito ou esclarecido.
Voltei ao passado, lembrei do nosso primeiro verão, das nossas danças que rendiam boas risadas e pés cansados. Seu sabor predileto de sorvete: morango. Eu ria, achando uma escolha tão comum... Lembrei de seus discos de Chico e do entusiasmo quando falava do poeta. Então era como se suas mãos secas estivessem apertando, mais uma vez, minha cintura apesar de meu olhar de reprovação e sua gargalhada sonora no corredor do mercado voltasse a ser tão rotineira.
Senti as lágrimas quando já caíam de meu queixo e as enxuguei naquele vestido branco tão caro e enfadonho.
Aquele da foto 3X4 não era o qual ao redor de rosas (previsíveis) vermelhas e rostos familiares me esperava com um anel.

Bateram na porta.

Escritos Escolares: Sete pecados capitais.

De modo irracional, a ira de um indivíduo se alastra trazendo um grande sofrimento a quem alcança. Seu resposável não sai impune; este, com raríssimas exceções, será o maior prejudicado, uma vez que o ser humano não está imune ao seu próprio veneno.

Tanto a crítia quanto o elogio podem ser refúgio para a necessidade de possuir um sonho-material ou não- alheio. A admiração quando desmedida torna-se cobiça, uma forma triste de viver cuja satisfação sempre se representará de maneira impossível.

A avareza nunca foi tão recorrente, personificada também nos senhores de sapato engraxado. Esse pecado assola o país criando uma cultura de avarentos, em que o único meio para se alcançar a felicidade é aquela velha soma que embaixo do colchão se torna status e poder.

Os gregos já citavam a vaidade na personificação de Narciso. Um amor próprio capaz de afogar toda a possibilidade de uma convivência de troca entre pessoas. A vaidade não deve ser justificada como forma de valorizar-se, uma vez que a valor das pessoas vai além do que o espelho pode refletir.

A preguiça é uma forma de ócio quando este não é momento de prazer.É perceptível uma linha tênue entre esse falso cansaço e a depressão que incapacita o ser humano a agir e sentir o mundo a sua volta.

Pecado corriqueiro neste século e considerado por muitos como hipocrisia dos antigos, a luxúria deve ser vista como uma forma lasciva de prazer instantâneo e infelicidade duradoura.

Durante muito tempo comer em excesso era sinônimo de boa alimentação e saúde. Hoje um reflexo desse pecado capital é a obesidade, que, segundo o Médico Dráuzio Varella, é o mal deste século. A gula prejudica o indivíduo que a pratica e este logo perde o apeite pela vida.

Escritos Escolares: Vim, não vi, perdi.

A democracia nunca esteve presente no discurso de tantos brasileiros como atualmente.Essa oratória se justifica por ir de encontro ao cenário político de incendiária corrupção no país.
Karl Marx criou uma maneira de conduzir a sociedade que quando projetada nos indivíduos se enfraqueceu.A democracia não faz distinção do socialismo no que se refere a sua execução, que é no mínimo parcial. Assim, o rumo do país não poderia ser outro senão justiça parcial, segurança parcial e educação parcial, alicerses fundamentais para a formação de um cidadão.
Democracia se torna Neo-democracia não por ser nova, mas por ser vertiginosamente diferente de sua origem filosófica.

sábado, 29 de setembro de 2007

Ame-se mais

Meu título nem meu texto pretendem-se de auto-ajuda, na verdade eles trazem minha indignação com essas palavras. Eu as li em um Kombi parada na beiramar enquanto corria. (sim, estou me propondo vícios saudáveis e sem cafeína). E do lado trazia em letras pequenas algo mais ou menos assim: Capanha de cuidado pré-carnaval. Ei, que isso? Hoje, o mundo chegou ao ponto de fazer uma propaganda sobre amor-próprio!O pior é que talvez dezenas de pessoas precisem de tal lembrete. E o reflexo dessa falta de satisfação com você mesmo é o mínimo cuidado com as pessoas ao redor.
Ao passo que esta falta de amor contradiz de forma direta com a preocupação excessiva com a imagem pessoal. Um reflexo de espelho que define o humor do dia e, talvez, de toda a vida. Esses dois tópicos devem ser complementos, de forma que se equilibrem e tragam nada mais que amor. De maneira explicitamente inata.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Ti (in)tímido

“A um íntimo amigo tímido”


O tímido não é tímido por opção,
Não fala o que lhe vem à cabeça porque não quer,
não denuncia seus medos porque assim lhe faz bem,
Não expõem seus amores com facilidade,
Mas afogar suas paixões no silêncio tampouco é prazeroso
A ele.
E quando diz...
Liberta-se de seus monstros,
caracteriza o planeta de forma única.
É objetivamente sensível.
Então enxergo
Um grande homem de veracidade que intimida
Fazendo com que suas palavras
Se tornem uma prece
Por um mundo (mais) ensolarado.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Pensando em nada IV

Engraçado como Deus pode responder nossos questionamentos de forma tão clara. Estava eu em mais um almoço de domingo com a família reunida, quando se senta à mesa ao lado um casal de velhinhos, (talvez mais velhinhos do que aqueles na pizzaria) o garçom oferece o cardápio primeiro a senhora que sorri e o abre tão imediatamente quanto sua idade permite. Então o garçom o oferece ao senhor que orgulhoso da lady a sua frente empurra, dizendo: “Ela que manda”.
O garçom sorri: “Carta de vinho, senhor?”.
Eu já não podia acreditar na tal cena em minha frente, com total visibilidade e som ideal.
O senhor sorriu e disse de peito estufado, como se cansado de repetir: “Ela escolhe tudo”.
Sorri sozinha.
Talvez seja isso mesmo... Eu possa escolher mais do que garrafas de vinho, não como uma feminista tola, mas como esposa zelosa de marido apaixonado.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Musa do esquecimento

Chega das pessoas me dizendo o que fazer
Chega de você esquecendo de me querer
Chega do atropelo que permite sem ter prazer
Chega do sufoco que passo sem ter você
Chega de fingir vitória, pois na verdade só sei perder
Chega de ser a musa, mas sem nunca poder viver
Chega de não te ter e mesmo assim continuar a ser

A ser eu mesma...
A ser você.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007


"Quem luta com monstros deve velar por que,
ao fazê-lo, não se transforme também em monstro.
E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo,
o abismo também olha para dentro de ti."
Nietzsche

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

7 do semtempo!

Viva a independência do Brasil, independente do presidente, da nação, das queimadas,
Dos seqüestros, dos acidentes de trânsito, da vulgaridade da mulher brasileira,
da precocidade dos jovens, das C.P.I.s, do desemprego.
Viva a independência, independente do trafico de drogas, da prostituição infantil, dos suicídios, homicídios e genocídios, do racismo, da AIDS, dos impostos, do mercado negro, do vagabundo.
Viva, independente da marginalidade, velhacaria e a @#(*&# do Jeitinho Brasileiro.
Dizem que não se pode viver sem ele, mas viver nele é um inferno!
Mas, talvez eu possa ficar sem... e o calor só ajude a situação.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Pensando em nada III

A cada gota de chuva que caia, eu pensava na quantidade de nuvens que deveriam ocupar o céu minutos antes. Estava tão cansada de pensar e a chuva não deu trela pra minha conversa, talvez tenha chovido mais, justamente para me provar do que era capaz.
Meu guarda-chuva amarelo propôs-me mais tempo nas ruas, acho que ele não queria voltar para o armário tão rápido, ele merecia uma tarde de chuva. Gostei da idéia e o segui tão sozinha e pensativa que meus pés finalmente me disseram pra parar.Gostei da idéia também. Parei de pensar.

Pensando em nada II

Hoje sorri duas vezes, num dia cinza e úmido de chuva, a primeira vez foi ao assistir um casal de velhinhos que ocupava a mesa ao lado da minha. Eles dividiram as funções do jantar. Ele pediu as pizzas individuais enquanto ela voltava com dois camafeus em um prato pequeno. E pensei: O homem pede o jantar, a mulher se obriga a escolher, apenas, a sobremesa, que apesar de doce é desprezível. Mas ela não achou ruim o fato de fazer uma escolha tola. Eu quero escolher o jantar e participar do pedido da sobremesa também. Quando olhei pra frente, sorri: Não era ela que estava sozinha a olhar a vida alheia.
A segunda vez foi na cafeteira, quando questionada da típica conversa de atendente: Açúcar ou adoçante? Respondi: Nada, Puro. Ela riu e comentou: Amarguinho, mesmo?
Eu sorri e respondi mentalmente aquela pergunta até o ultimo gole daquele café.

Pensando em nada I

Ontem, o dia pedia mais de mim do que o habitual. Tinha um vento que cortava meu rosto, mas que de forma estranha alinhava meus pensamentos. Meus olhos se mantinham suspensos a maior parte da distância. Respirei fundo algumas vezes... Tudo bem, várias vezes. Não me lembro de ter falado sozinha em alguns pensamentos intensos, mas não descarto o fato deles terem acontecido. Aquele vento parecia querer me afastar das únicas certezas que me fizeram aquecida toda uma vida ao mesmo tempo em que como já disse, pareciam limpar toda a poeira de certas posições que me depositei.
Não chorei, credito-me tão forte para bobagens como essa. Meu choro é outro nesses momentos, um que esvazia os pulmões por alguns segundos e força a mandíbula.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Meleca

“Amor é como cuspe,
Quando da boca alheia
Torna-se meleca
Quando da nossa
Não é tão ruim assim...”

Meu divã- pensamentos perdidos parte I

Era o divã de minhas dúvidas. Espalhava-me nele todo, buscando em seu cheiro, em seu toque as respostas que mesmo ela não tinha e me garantia sem vergonha. Sorria pretensioso, fingindo ser alguém legal, quem sabe ela se permitiria acreditar... Mas no final de tudo, não era surpresa para mim, ela se daria conta de que eu na verdade não era nada além de um cliente em seu sanatório residencial.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Sem querer ser sereia.

“Ao meu pai,
Um eterno afogado nos encantos de mamãe.”


Figura enigmática,
Cintura fina,
Quadril largo,
Intencionalmente acomodado
Em qualquer lugar bem planejado.

Entoa de forma inesquecível
Uma voz que fascina
Cala a paz,
Cega a vida.

Inalcançável e tão sozinha,
Se faz mulher
E tão menina.

E por querer alguém pra companhia,
Naufraga a todos
Sem melodia.

Triste fim de uma sereia
Amada por marinheiros
Que dela prisioneiros
Nunca se tornarão amantes.

E se me pedires conselho
Não te amarres nas
Ilusões dos teus consolos.
Direis: Afogue-se!

sexta-feira, 10 de agosto de 2007
























18 anos, nada sei, nada vivi,

chorei algumas vezes,

admito, sorri também! Amei poucos, gostei de alguns, não acho que muitos sofreram por minha causa, nem acredito ter salvo alguém, entrei diversas vezes no meu mundo das idéias, é um bom lugar para se criar personagens e vidas maravilhosas, mas voltar pra realidade é severamente bom.

(nem sempre)

Conheci algumas pessoas boas. Heróis... dá pra contar nos dedos de apenas uma mão. Vesti algumas fantasias que me fizeram bem e me fizeram mal. Dancei diversas vezes sozinha. Não pintei o cabelo. Aprendi uma outra língua. Namorei.

Terminei e não comecei de novo.

Descobri que vinho é bom. Já quis ser palhaço (apesar de hoje ter aversão aos meus possíveis colegas de trabalho), já quis ser freira e lixeira quase de uma vez só. Fiz boas festas. Fiz poucos amigos, mas conheci diversas pessoas. Fiz dança de salão. curso de mosaico. Ballet e Arco e Flecha. Toquei baixo. Masquei muito chiclete. Disse muitas vezes eu te amo pra poucas pessoas. Não tirei minha pinta da ponta do nariz que hoje faz parte de mim como nunca tinha feito. Estudei pouco. Tive notas altas. Escrevi boas histórias e histórias terríveis. Ouvi orquestra e vi danças lindas. Conheci um pouco o mundo e o mundo pouco me conheceu. Sorri a ilustres desconhecidos. Fiz careta pra muita gente tola. Falei pouco palavrão, mas já falei muita coisa, nada de muito valor, admito, afinal o que se pode dizer de valor quando se tem 18 anos?

Vomite-se!

Vomitei as mágoas e ansiedades. Coloquei fim aquilo que não teve começo.
As lágrimas caíram para dentro de mim durante algum tempo. Vomitei-as também.
Vomitei os nomes, as cores, os cheiros. Vomitei ele, ela e todo mundo que havia engolido. Vomitei os murros e chutes não dados, os palavrões não ditos. Vomitei as lembranças perdidas, os arrependimentos. Vomitei meu país, meu RG e cidade.
Vomitei os apelidos e as piadas. Vomitei tudo que me fazia mal e doente. Vi-me finalmente livre...e então, vazia demais... Morri naquele instante que me encontrei feliz.
Logo que a felicidade está em sua destemida busca e não em seu casual encontro.


sexta-feira, 27 de julho de 2007

A Senhora e o Homenzinho

Entrou irreverente no salão. Era uma figura curiosa de senhora. Pois nem o frio lá fora explicava a exuberância do casaco que a Dona vestia. As pérolas, me lembro que comparei as minhas bolinhas de gude que se encontravam no bolsinho do paletó por ordens severas de minha mãe. A pintura na pele não era pra esconder a idade, talvez para distanciar os olhos do salão que a olhavam numa tentativa discreta de serviçais.O perfume importado e que devia acompanhar aquela senhora por no mínimo o dobro da minha idade na época, encheu o salão e deixou-me tonto. Vi minha mãe olhando seus sapatos o que me fez olhá-los também. Sapatos pretos, um tanto grandes para uma dama encasacada e cheirosa. Esses mesmos sapatos que foram se aproximando aos poucos de mim.Recuei para junto das pernas de minha mãe e corajosamente olhei para ela. Era uma distancia tão grande. E então ela me olhou também. Curiosamente, sorriu. Todo o perfume, maquiagem e até o brilho das pérolas ficaram opacos para mim. O brilho daqueles olhos que viram tanto. Eu a olhei por tempo suficiente para que minha mãe me chamasse a atenção. A senhora saiu ainda sorridente.
Um dos homens que carregava suas coisas no dia seguinte me trouxe um cartão e um belo saquinho de bolinhas de gude, de tantas cores e tamanhos que as fizeram inúteis para o jogo. Levei o bilhete para minha mãe que trabalhava na cozinha daquele hotel. Ela começou questionando o saquinho em minhas mãos e logo parou. Levou a mão em sua boca e soltou um gritinho assustado típico de mamãe quando vê ratos. Abraçou-me e sorriu para o nada. No bilhete dizia o que aprendi ler anos depois:
"Ao corajoso homenzinho que encarou a Inglaterra."

A senhora deixou o hotel no mesmo dia.Foi quando ouvi as pessoas do lado de fora gritando: "rainha".

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Mocinha







"Para Sabrina, rotineiramente encantadora"
(parabéns querida!)

De lacinho na cabeça
Um risinho envergonhado
É ela minha mocinha.

Fui ter com ela uma conversa,
Não tinha nada de mocinha
Era essa uma mulher.

E depois dela,
me vi mocinho
sem lacinho na cabeça
mas envergonhado.

Envergonhado, sem dúvida.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Little Wing

"Para Leandro Matsuda, um grande companheiro
para conversas revolucionárias."

Abri os olhos apenas, passara a noite em claro.Minhas mãos suaram constantemente e foram enxugadas no lençol puído que cheirava a suor, a uso constante de vários antes de mim que se encostaram ali. O dia era aquele. Os companheiros todos esperavam de mim a palavra final. A dor de cabeça me mantinha entre aspirinas e as armas pesadas. Um dia em um passado distante me trouxe hoje a esse porão. Sonhara, em minha juventude, em ser músico, tinha ouvido falar em Jimi Hendrix e sua “virtous guitar...”. Mas estava ali e afinava meu único instrumento com pólvora. Gritaram meu nome na sala.Fui até eles. Esperaram uma resposta. Falei algo encorajador que se espera de um líder. Não acreditei em metade das coisas que disse, mas eles gritaram satisfeitos com o discurso. A grande maioria dos companheiros da sala tinham a idade daquele garoto que ouviu o vinil de Jimi na casa de um vizinho.
Toda a banda munida com seus instrumentos, saímos do barraco prontos para tocar.
A pressão na cabeça era constante, apesar das aspirinas tomadas com rum. Os olhos vermelhos e o rosto suado deu sinal. Os instrumentos afinados tocaram lindamente, e o coro de gritos e choros também se apresentava no palco este dia. E de repente cai. Meu corpo ficou quente e mais molhado. Em dias, esse era o primeiro momento que a dor na cabeça passou. Sorri. O som da banda foi ficando cada vez mais baixo. Sorri novamente. Lembrei que não teria uma foto de uma garota bonita no bolso quando me encontrassem, mas aspirinas e um maço de cigarro. Antes de finalmente dormir silabei: “Take anything you want from me, anything. Fly on, little wing.”

quarta-feira, 13 de junho de 2007

O cheiro, o sonho e o cimento

Os móveis pegaram poeira. O carpete continua manchado do vinho que seu pai derrubara por capricho na casa nova do genro. Os jornais começaram a empilhar e depois pararam de vir. A sua idéia de “a luz de velas” faz sentido agora que a energia foi cortada. Não lavei a roupa de cama, não pela preguiça de fazê-lo, mas porque ela ainda tem seu cheiro. Cheiro esse guardado com tanto carinho que não me permito ficar muito tempo enfiado em seu travesseiro. Meu cheiro é tão ruim.
Tua voz rindo estridente e tão irritante me fazia poupar a piada, que seria mais tarde contada apenas aos amigos. A casa não se silencia mais pois há uma porção de pedreiros trabalhando no prédio ao lado. Esses me poupam das poucas horas de sono e me lembram que o mundo ainda funciona. Uns ainda cantam ou assoviam músicas bregas de amor para as mulheres na rua. Parecem felizes ali, com seus assovios e sabendo que passarão a vida toda enterrados no cimento.
Parei de sonhar. Nunca fui religioso, mas pedi para aquele que você rezava, para que voltasse a sonhar. Ele não me atendeu, depois de um tempo parei de pedir. Em alguns momentos volto atrás, mas mesmo assim ele não me atende. Os amigos sumiram. Descobri-me um bom cozinheiro. Mas nunca ninguém experimentou, então não tem como saber se é realmente bom. Talvez eu convide aquela filha do síndico, ela é bem normal. Conheci-a porque seu pai a mandou aqui para perguntar-me sobre as contas de luz.
A risada dela é normal.Um pouco mais grossa que a tua. Os dentes são brancos. Dedos afilados, um pouco compridos demais para mim. Disse que voltaria depois para conversar. Ela é uma das moças que passa e os pedreiros fazem um coro. Olhei-a na rua pela janela cozinha, ela fez uma cara desgostosa aos homens, virou-se para frente e sorriu dissimulada. Você não faria cara alguma a eles. Apenas passaria. Eles assoviariam e gritariam qualquer coisa para que olhasse. E você mais uma vez, apenas passaria.
Os moradores me olham estranho agora. Isso quando os vejo por azar no corredor enquanto recebo o moço do mercado da esquina que me traz as frutas mais amassadas. Semana passada classificaria o leite que o mocinho me trouxe como semi-azedo.

A campainha tocou, era o síndico que parecia um tanto nervoso:
- Olha, a gente aqui do prédio não acha que você está muito bem, mal sai do apartamento, parece esquecer de tomar banho, ninguém nunca veio te visitar. Minha filha me disse que você comentou que sua esposa morava aqui...Mas você mudou pra cá mês passado...sozinho.

Ele fechou a porta. Dormiu ali mesmo no corredor por uns dois dias. Sonhou todo o tempo.Esqueceu-a. E nunca entendeu o porquê dos olhares assustados no corredor e os panfletos de auto-ajuda de baixo da porta...Ah, ele saiu uma vez ou duas com a filha do síndico, mas eles não se entendiam na cozinha.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Faz-de-pérolas

Desejo voltar ao meu mundo lúdico.
Aquele de guarda-chuvas e berinjelas.
Sem feiúras, sem mazelas.
Estaria eu montado em minha zebra colorida.
Ao encontro de uma dama acetinada,
Ora fada delicada, ora bruxa vagabunda.
Uma maçã (in)verde(nada) morderia e aos pés da bruxa calaria.
E quando fada me traria vida novamente.
Num incansável jogo de amor.
Bem como morte que traz a vida e a vida que traz a sorte.
Seguiria os tijolos amarelos até aquele fim indefinido.
E mataria o lobo a pauladas.
Mas então acordaria
Por causa de uma ervilha.
Uma insignificante ervilha amarela que Mendel explicaria.

O pescador

Ela entrou sorrindo com as amigas em um barzinho badalado da cidade.
Era o primeiro dia dele no novo trabalho, disseram que era corrido, mas pagavam bem.
Tiveram que esperar até que uma mesa vagasse.
Vestiu-se e esperou o gerente. Sempre teve vontade de entrar naquele lugar caro, faria-o pela porta dos fundos.
Perguntaram a ela sobre o namorado. Respondeu pouco convicta que as coisas iam bem.
O lugar estava cheio e os pedidos corriam em suas mãos nervosas, mas até então conseguia dominar bem os clientes “playboys”.
Uma mesa aguardava por elas, atravessaram o lugar acompanhadas por olhos curiosos.
Um casal o chamou para pedir a carta de vinhos.
Ela notou um homem alto que parecia um tanto apressado, mas que parou por um instante.
Ele viu um anjo no bar, e seu olhar devoto foi o mais perto que se permitiu chegar dela. Era a menina mais linda, perfumada e encantadora. Parecia diferente de todas e exatamente igual a um sonho distante.
Ela dissimulou tímidos os olhos.
O casal descrente da falta de atenção do garçom, reclamava alto.Ele não conseguia parar de olha-la.
Mais curiosa que tímida, ela lançou, novamente, seus olhos dourados ao pescador, que se mantinha agraciado com a visão.
Um outro garçom o chamou e exigiu providência. O casal ainda esperava a carta de vinhos, haviam pedidos a serem entregues e pedidos a serem feitos.
Ela foi pra mesa mais calada, se perguntando o porquê daquele momento. Instante brilhante que a fez senhora daquele olhar cativo do pescador.
Ele voltou a recente rotina, um tanto desatinado. Sairia dali bem pago mesmo sem receber salário.
Nunca a olharam de um jeito daquele. Descobriu-se dona de um outro alguém. Amou-se como se pela primeira vez. E viu-se refém de redes que poderiam nunca mais ser lançadas.
E não foram.
Ele perdeu o emprego.
Ela despediu o namorado.
Ambos... Noites de sono.

sábado, 26 de maio de 2007

A previsão no café

Cabelos loiros, roupas coloridas e surpreendentemente harmoniosas. Sorria animada de tempos em tempos com o livro entre suas mãos que seus olhos brilhantes acompanhavam com toda atenção.Não a conhecia, mas tomar o último gole de café sem antes ouvir sua opinião sobre qualquer coisa, seria o café mais amargo e arrependido que teria chance de provar. Como tirá-la do prazer da leitura sem que seu sorriso não sumisse por muito tempo?
Levantei rapidamente, cheguei perto de sua mesa e esperei atenção...Nada aconteceu.Tive que começar:
-Olá, importa-se em dizer seu nome?
Ela, sem tirar os olhos do livro , perguntou-me mesmo parecendo não querer ouvir resposta:
-E ganho o que em troca?
O que era aquilo? Quem em sã consciência faz uma pergunta como aquela?Mas agora minha honra estava em questão. Notei anteriormente a capa de seu livro que trazia figuras estilizadas de cartas de baralho e o título:"Tarô: Histórias de infortúnios e amores no jogo."
Comecei um pouco pensativo:
-Se me disser seu nome, te darei uma previsão do seu futuro - Ela agora me olhava e respondia sim com a cabeça- Uso uma técnica diferente de todas que você possa conhecer, que vai além dos búzios e cartas. Faço a leitura dos sinais de nascença, como pintas e manchas. E posso dizer seguramente que a pinta próxima dos seus olhos combinada com a mancha em seu pescoço significa paixão a vista.
Ela sorriu e puxou a cadeira me convidando para sentar. A partir daquele dia passei a acreditar em previsões. E depois de pedir mais uma rodada de café para uma longa conversa, questionei:
-Ainda não me disse seu nome...
-Pensei que era adivinho...
Sorri tímido, como não acontecia a muito tempo.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Italiano

Um sotaque forte, que confunde os ouvidos mais aguçados. Era charmoso e sofisticado, esse tipo naturalmente europeu, que encanta com uma palavra ou duas ditas no próprio idioma. Tinha uma postura diferente dos homens ordinários. Um terno caro da mesma procedência do dono; acompanhava belos sapatos recentemente engraxados. Tocou a testa, estrategicamente, com os dedos e olhou para mim, que disfarçava entre um gole de jornal, e umas palavras de café.Depois, ajeitou-se na cadeira, sem pretensão alguma de olhar-me de novo.Voltei ao meu mundo das idéias, deixando para trás a curiosidade sobre aquele senhor. Mas desci rapidamente as escadas dos meus pensamentos quando senti a presença do garçom.
-O cavalheiro que estava ali sentado, deixou uma gorjeta gorda para pagar suas despesas aqui.
Eu sorri, estava certa sobre ele não ser um homem ordinário:
-Hum, então talvez eu queira mais um café e um pedaço daquela torta.
O garçom riu pela primeira vez e com certa intimidade, sugeriu:
-Trarei um pedaço e embrulharei todo o resto para a viagem.
E saiu sem esperar resposta.Consenti. A torta da casa era a melhor da cidade e a mais cara também.Olhei para o lugar que o estrangeiro havia ocupado e seu cigarro ainda fazia fumaça apoiado no cinzeiro.Sorri.Subi as escadas novamente e fiquei ali até dormir.
Acordei algumas vezes durante a noite.Seria uma história para contar aos meus futuros namorados, filhos e até netos.Era tão nova e já me fora permitido apreciar tal cortesia.
Dias depois me encontrei com o italiano novamente, dessa vez num jornal em letras garrafais: MAFIOSO ITALIANO É ENCONTRADO NO BRASIL.
A torta durou mais tempo do que eu a observar o estrangeiro, mas ela, já não era a mesma.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Endereço

Era um outono como todos os outros daquela rua, sem nenhum sinal de que a estação mudara, a não ser pelo vento mais forte que apenas os mais astutos notavam.
Ele saiu do apartamento, cumprimentou o porteiro como em todas as manhãs e abriu seu Box de cartas do correio. Era sozinho, dificilmente encontrava ali algo mais que algumas propagandas. Dessa vez aparecera ali uma carta de verdade, nome a mão, meio amassada.
Para Cássio Lopez Souza, Rua Antonio Linhares, Ed. Fidellis, nº. 484, ap.7.
De Denise Avillar Cardoso, e seguia seu endereço que não era familiar ao homem.
Leu mais uma vez seu nome e o dela. Virou algumas vezes a carta por entre seus dedos, guardou-a no bolso do paletó.
No trabalho tirou-a do bolso e pensou em abrir, mas fazia tanto tempo, tudo estava tão diferente... Com ela possivelmente, já que sua vida continuara a mesma, sem grandes problemas ou alegrias.
“Querido Cássio,” -Querido?( Ele sorriu sozinho)
“O tempo não foi um dos meus melhores amigos como você,...”-Isso quer dizer que eu fui amigo, ou fui como o tempo?Ela continua sendo uma pessoa confusa...-“Admito que ele me trouxe duas filhas lindas...”- Lindas? Com sorte não puxaram o nariz daquele turco...-“Mas não se vive apenas de alegrias, sabe disso...”-Eu não sei nada, pra variar, lá vem ela colocando palavras em minha boca-“Não sei como começar...”-Talvez pelo começo seria ideal...-“ ...a verdade é que...”- Calma Cássio, faz tanto tempo! –“queria te pedir desculpas, sei que o recomeço é impossível”- Nem lembrava mais dela...talvez um pouco, mas nem quero recomeço, e ela soa como se eu quisesse...-“Não achei que você estivesse pronto pra mim...”-Meus pais nunca colocaram nenhuma fé no filho único, por que você o faria?- “...e na verdade, eu tive medo, era infantil e sonhadora, acreditei piamente nas viagens que faríamos, que você seria rico com a música, e teríamos cinco cachorros, gêmeos e uns três empregados...”-Nem lembrava disso, que bobagem...Chamariam Rita Lee Cardoso Souza e Francisco de Holanda Cardoso Souza...sorte que não tivemos filhos...(ria)-“Engraçado, ainda escuto aquela fita que fez pra mim, lado A – a música que me fez, lado B- a música que gostaria de ter feito pra mim antes do próprio autor (sempre achei isso engraçado)”- Engraçado escrito duas vezes na mesma frase? Talvez devesse ter tentado ser palhaço a músico! Os acordes eram dois,eu sei, mas ei, foi minha primeira composição, só tinha tido quatro aulas com aquele professor Yuppie, e a letra não era das piores...- “Mas não importa, isso foi a muito tempo, hoje nem lembro mais daquela aspirante a atriz, ou da garçonete distraída, mas lembro bem de você, dos dentes brancos, das sandálias amarradas em um tornozelo fino” – Ela me provocava toda vez com a piada do namorado que tinha dois cambitos, entrei na musculação depois...sai rápido também.- “Voltei no passado e não falo do presente, do meu presente. Estou com vontade de lembrar do passado me ajude nisso”- Ela diz que é impossível voltar atrás e agora quer reviver o passado? Novamente contraditória...como sempre.- “Me escreva, me visite, é só duas horas de ônibus, faça parte de minha vida novamente, pelo menos como um bom amigo” –Ah , então sou bom amigo e não como o tempo...Mas não vou ligar , não quero vê-la, não deve estar bonita como era quando jovem! Demorei alguns anos para tira-la da cabeça...Se de fato consegui...- “Saudades Denise.” Saudades? Quanta saudade?Só agora a sente?
A carta rasgou um pouco por causa do estudo meticuloso em cima dela, mas foi só.
Se encontraram uma vez ou duas. Ela constrangida pela carta, ele também, por não ter uma endereçada a ela.Mas admitiu em seus pensamentos: Ela não estava tão feia assim...

terça-feira, 15 de maio de 2007

crises espirituais de infância.

Procuro em meus pensamentos algo que valha a pena ser dito. Não encontro nada, mesmo depois de tanto tempo.O que me faz escrever realmente é a garganta ruidosa de uma gripe nada passageira e uma prova que sem estudo, me espera, estudiosa, no quarto. Não é nada primoroso ou apenas bem pensado.Classifico-o como uma desculpa grosseira para que os livros continuem a espreita e o própolis seja mais um (pseudo)vício dessa que tosse...e escreve também.
Contarei algumas coisas de infância que me foram reveladoras:
Como Sandy e Junior não serem namorados, mas irmãos.
A crise infantilmente tradicional da descoberta do papai noel que paga parcelado e o insight das pegadas mal-feitas do coelho no corredor, da minha "fé" de criança ao acreditar piamente em Adão e Eva num jardim real (sempre pensava que seria melhor Eva, do que aquela tola com a maçã).
Tive uma certeza grande que seria freira, quando pequena.
Minha fase de maior crença foi quando novinha, em uma prova de ciências- sim pois quando se é pequeno, Biologia é palavra muito difícil- me deparei com uma pergunta sobre algo relacionado as fases da borboleta ou algo assim que não importa pois minha resposta caberia a qualquer pergunta SUPER científica: Porque Deus a criou assim!Acho que poetisei um pouco mais (ou muito mais) que duas linhas sobre isso. Orgulhei-me com aquela resposta que deve ter servido a algumas outras questões na mesma prova. Chamei a professora, convicta de que Deus só tivesse conseguido tocar meu coração naquela classe cheia de crianças pouco espirituais aos meus olhos (verdes e desproporcionais naquela época). Ela chegou sorridente, leu e silenciou.Senti-me onipotente (ou me sentiria assim se com 9 anos soubesse o significado de onipotência). Com alguns anos de vida tinha silenciado uma professora.(O que seria daquela criança quando adulta). Mas queria mais e perguntei: O que acha? Ela: " Certo está, mas não queria isso." e me soltou uma cara meio amarrada de insatisfação. Não me lembro de minha nota. Lembro que senti pena dela (pobrezinha) que não tinha Deus muito presente em sua vida.
Naquele dia rezei por ela.
Ela, por mim, deve ter feito o mesmo: para que eu sempre pudesse pagar os estudos em colégios católicos, como aquele.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Brilhante

Era um anel de brilhante como aquele de minha avó, que se perdera em um baile de aleluia. Reluzia em uma mão juvenil e displicente. As unhas pintadas tentavam em vão esconder mãos calejadas de um trabalho digno do passado. Essas mesmas mãos que agora alisavam meus cabelos. Perguntei sobre seu anel. Ela riu, o olhou orgulhosa, e pensou por algum tempo. Depois bebeu a pinga barata de meu copo e o colocou de lado, vazio. Começou a me falar de um tal barão rico que a fez madame com dois casacos de pele, vendidos a um de seus clientes que daria a esposa como presente de uma fictícia viagem ao exterior; o anel de brilhante em sua mão e um filho bastardo abortado após o suicídio do barão pela queda do café. Ela me pareceu pouco deprimida pelo tamanho dos desastres em sua vida. O que eu era além de um estudante de direito em busca de uma aventura bem tradicional de minha época?E ao meu lado uma moça que apesar de pouca idade, era senhora de uma vida clandestina e obscura. Pensei em seus sorrisos ao falar de seu verdadeiro amante, de como pela primeira vez na noite seus olhos se iluminaram ao olhar o presente do passado.Conheci naquele momento uma entidade completa, uma verdadeira professora na arte da infelicidade. Levantei-me rápido, tropecei no copo vazio e apanhei meu casaco que parecia mais confortável que eu na cadeira. Ela me olhou agressiva, procurei não encontrar com seus olhos novamente. Bati a porta e ouvi ao fundo seu grito me xingando de tantos nomes terríveis que alguns não imaginava existir e me cobrando dinheiro pelo trabalho não feito, mas pelo tempo gasto. Voltei a pé para casa. Na sala, meu pai deu-me um sorriso orgulhosamente machista. Sorri, fingindo aceitar a honraria. Olhei para minha mãe-que dissimulada-pretendia dar atenção às flores nessa hora. Passei alguns dias a pensar na mulher, em seu anel, em seu barão. Voltei àquela casa que mesmo durante o dia parecia mal iluminada. Dei o dinheiro que fora combinado por nós, ao homem na porta. Sai feliz e convicto de que não me veriam ali novamente.
Alguns anos depois voltei. Paguei e consumi.Algumas vezes. E me tornei aquilo que me fizera correr naquela noite. Um solitário.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

A violinista

Sentei em uma poltrona desconfortável, e não diferente da maioria das pessoas, senti um chiclete que parecia completar alguns meses naquela inércia de orquestras e peças de teatro.
Disseram-me qualquer coisa sobre o apresento de hoje, um piano, um maestro e mais alguns instrumentos.
E naquele cenário inconseqüente as pessoas falavam, comiam, ou infelizmente - como o menino ao meu lado-faziam ambos ao mesmo tempo.
Mas como por uma prece minha ao deus da pouca socialização, toca o último aviso. Fiz uma cara feia ao garoto que calou tão rapidamente, despertando a atenção de sua mãe que me olhou com desaprovação. Fingi não ser pra mim.
Ajeitei-me na cadeira, abriram-se, então, as típicas cortinas vermelhas tão surradas e empoeiradas que causam tosse momentânea aos felizardos que conseguiram ingressos na primeira fila.
Entram os músicos, a platéia leiga bate palma, e penso mais uma vez que morar longe de um país democrático me faria feliz.
Começa a música, o maestro costura todas as notas dos instrumentos, uma mulher pobremente vestida para um evento daqueles, ocupa lugar de destaque junto ao pianista, mantém os olhos curiosamente fechados, tocando um violino que deve ter sido comprado na mesma época de seu traje. Logo já me esqueci do garoto que ocupava com seu bracinho gordo a maior parte do braço da cadeira que nos era comum. Nada mais via senão a violinista, de respiração pausada e gentil. Procurei a vida toda por uma mulher assim. Trataria-me da mesma forma que ela o toca: firme e carinhosa, passional, mas disciplinada pela partitura. Tive inveja de um violino curtido, e logo me lembrei que depois da bela música há sempre as mãos que não o tocam, mas o guardam. Resolvi parar de pensar, sublimaria aquele momento, esforcei-me para guardar fresca a música que poderia me lançar dias menos infelizes. E como em uma reverência cortês, as notas foram acabando até violino dar seu último grito abafado.
Levantei-me e aplaudi estaziado, perplexo, feliz. E sozinho.
Deve-se apenas expor qualquer emoção, seja ela vaia ou palmas, no FIM.
Sentei-me constrangido, a violinista me olhou com olhar sério e insolente. Aquele mesmo olhar que dei ao garoto minutos antes para que não incomodasse mais.
Na saída, segui para o carro de cabeça baixa, mas deixei como lembrança um chiclete de menta que terminaria seus dias ali. Entre palmas e olhares descontentes.

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Procura-se

Tem que gostar de salada, sorvete no inverno e cabelos enrolados,
Tem que entender de carros, ter bom humor e não contar piadas,
Tem que ter assistido Grease, lido Oscar Wilde, admirar “O Nascimento de Vênus”
Tem que ter cheiro de perfume, não gostar de incenso ou cigarro.
Tem que parecer ator de Western, ser charmoso, e saber piscar com um olho só,
no momento certo.
Ouvir de Chico Buarque a Gun´n´roses.
Ler de bula de remédio a Clássicos.
(Detesto ler bula, preciso de alguém que faça isso por mim).

Alguém que lembre dos sonhos da noite passada, das histórias da infância.
Se vista com bom gosto, tenha no pulso esquerdo um relógio de ponteiros.
Tenha dentes branquíssimos e cílios grandes.
Faça elogios sinceros e variados,
Dance como um cavalheiro,
Abra a porta do carro,
Pague a conta se puder,
Apareça com uma flor na mão de vez em quando,
Mas não mande rosas vermelhas pro colégio.
Cozinhe de um jeito que me faça sorrir de prazer,
Goste de chá sem açúcar, e café puro também.

Tem que precisar de abraços e beijos, sorrisos e broncas.
Desafiar meus julgamentos, questionar posições.
Saber o que quer, falar bem em público, e não gostar de multidão,
Não ter vergonha de chorar quando algo ruim acontece.
Tem que ser articulado e perspicaz.
Saber tocar um instrumento que não enlouqueça meus ouvidos.
Tem que gostar de criança (e o sentimento ser recíproco...).
Me dar boa noite e bom dia com intenção de que eles realmente valham a pena.
Me deixar sentar na melhor poltrona do cinema, no banco do lado da janela., ou na cadeira de costas pra parede. (e não receber nada além de um sorriso empolgado.)

Seja leve e intenso,
Firme e pontual,
E não me venha com “eu te amo”...

Ela

Seu cheiro me enoja,
Fede a sabonete barato roubado na prateleira do mercado.
Sua voz desafinada me revolta,
a cada palavra dita por uma boca miúda e sem graça.
Seu corpo me parece deformado,
mãos de dedos curtos,
pernas finas e tortas.
Seus feitos são medíocres:
péssimo café,
panelas sujas na pia,
chaves nunca a mão.
Não é mulher, não é menina.
Provavelmente não o será,
Por que continuo com isso tudo?
Acordo todas as manhãs e ela ainda está lá,
Isso me faz querer trabalhar...